Era
uma vez um povoado onde viviam muitas famílias. Todos eram muito
felizes e prósperos.
Porém,
houve uma época em que começaram a enfrentar a maior de todas as
secas da história. Não chovia há meses. Seu único rio estava
quase totalmente seco, por isso os animais estavam morrendo e seu
povo já enfrentava as consequências da escassez.
O
líder deles, um belo e jovem guerreiro chamado Noan preocupado com a
situação, saiu com dez de seus homens em busca de uma outra fonte
de águas. Passados muitos dias, não tendo encontrado nada, voltaram
cansados e tristes para suas casas.
Assim,
Noan percebeu que não havia outro jeito senão reunir o povo e
partir em busca de sobrevivência em outro lugar. E assim partiram.
Depois
de dois dias, avistaram um rio muito negro. Porém, como estavam com
muita sede, todos, dos mais velhos aos mais novos, agacharam-se e
saciaram-se. Porém, Noan, decidiu aguardar até que todos bebessem
primeiro.
Nesse
momento, encontrou no chão um pergaminho que lhe chamou a atenção,
intitulado: "O Rio Proibido" e o tomou para si. Ao se
aproximar do rio viu uma bela jovem de olhos amendoados e
longos cabelos vermelhos encaracolados. Ela parecia muito triste e
lhe disse suavemente apontando para o pergaminho:
-Não
conheces a lenda do Rio Proibido? Todos os que tocam em suas águas,
a sede nunca passará e o rio o tragará. Noan virou-se
instintivamente para o povo e de um a um, todos se transformaram em
peixes que pularam para dentro do rio.
O
jovem teve medo e correu para bem longe. Ao parar para
descansar num lugar mais distante leu o primeiro trecho do
Pergaminho:"O amor revive a dor que traz as águas! As águas
que trazem a dor revivem o amor!"
Não
sabia o que pensar. Pensou nas palavras que lera, no povo que agora
era um cardume e naquela bela jovem triste misteriosa que conhecera.
Achou tudo aquilo tão inusitado que, por um instante esqueceu a
própria sede que parecia estraçalhá-lo.
Continuou
lendo aquele estranho livro, que, contava-lhe a história de uma
princesa que viveu há alguns
séculos
atrás. Ela era muito cobiçada pelos rapazes da região por sua
doçura, bondade e beleza. Por isso, uma bruxa muito malvada, que não
era amada por ninguém, baniu a jovem para um lugar muito
distante e lançou-a um feitiço que a manteria lá para sempre. O
único que poderia trazê-la de volta seria alguém capaz de
sacrificar a sua vida pelo seu amor. A dor da princesa fora tão
grande que ela chorou, chorou e não conseguia mais parar. Logo, suas
lágrimas se juntaram transformando-se num rio negro.
Ao
ler essas palavras, o guerreiro pensou se a princesa poderia ter
existido de verdade ou se era apenas uma lenda. Imediatamente
ocorreu-lhe que a moça que conhecera poderia ser a princesa banida,
que já exercia um doce fascínio em sua mente.
Leu
então, o fim da história: "Num dia a bruxa visitou a princesa
e lançou-a seu ultimo feitiço: "Todos os que beberem de sua
água, a sede nunca passará e o rio o tragará. E se o feitiço não
for quebrado pelo amor verdadeiro em 24 horas, os peixes nunca mais
se tornarão humanos""
O
Guerreiro conhecia a região mais afastada e sabia que, ao andar mais
uns cem quilômetros à frente, encontraria seguramente alguma fonte
de água. Porém, decidiu retornar ao rio, pois as 24 horas já
estavam se esgotando e se não agisse rapidamente poderia perder seu
povo para sempre e a chance de salvar a princesa.
A
essa altura, sentia-se quase completamente sem forças, mas
apoiando-se num pedaço de madeira que encontrou pelo caminho,
conseguiu prosseguir com dificuldade. Parou um pouco, ao sentir
tonteira, pois já contavam-se quatro dias sem que ele bebesse
qualquer líquido. E, novamente, leu as palavras iniciais do
pergaminho: ""O amor revive a dor que traz as águas! As
águas que trazem a dor revivem o amor!"
Fez
uma tentativa de decifrar esse enigma, mas ao fazê-lo, percebeu seus
olhos fecharem-se. Juntou todas as forças que conseguiu e orou
implorando para que vivesse para ao menos conseguir salvar as pessoas
que dependiam dele. Ainda não sabia como, mas sabia que só ele
poderia ajudá-los. Foi assim que, em meio aos seus mórbidos
pensamentos, notou que, havia algo que não lera antes: As letras
pareciam-lhe embaralhadas agora, mas, no final do trecho, estava
escrito em letras bem pequenas:
"Ao
tocar o rio, o rio tocará você"
Finalmente,
conseguiu avistar o rio, do alto de uma colina. Desceu lentamente e
viu novamente a jovem que o fitava.
Ao
aproximar-se, pensou em seu amor por todas aquelas pessoas e chorou.
Suas lágrimas, que eram a única água que ainda restava-lhe no
corpo, derramaram-se profusamente em seu apoio. Foi então que tudo
começou a fazer sentido para ele e percebeu o que deveria fazer.
Tocou o rio com o pedaço de madeira, que imediatamente devolveu-lhe
todo o povo tornando-se azul brilhante.
Logo,
o povo foi habitar na região do Rio Proibido. Agora, todos podiam
beber alegremente de suas águas que nunca se acabavam, pois eram as
lágrimas do amor verdadeiro.
E a Princesa e o Guerreiro casaram-se e viveram Felizes para
Sempre!!