segunda-feira, 8 de setembro de 2014





A Lenda do Rio Proibido
                                              
                                                                    

     Era uma vez um povoado onde viviam muitas famílias. Todos eram muito felizes e prósperos.
       Porém, houve uma época em que começaram a enfrentar a maior de todas as secas da história. Não chovia há meses. Seu único rio estava quase totalmente seco, por isso os animais estavam morrendo e seu povo já enfrentava as consequências da escassez.
     O líder deles, um belo e jovem guerreiro chamado Noan preocupado com a situação, saiu com dez de seus homens em busca de uma outra fonte de águas. Passados muitos dias, não tendo encontrado nada, voltaram cansados e tristes para suas casas.
      Assim, Noan percebeu que não havia outro jeito senão reunir o povo e partir em busca de sobrevivência em outro lugar. E assim partiram.
      Depois de dois dias, avistaram um rio muito negro. Porém, como estavam com muita sede, todos, dos mais velhos aos mais novos, agacharam-se e saciaram-se. Porém, Noan, decidiu aguardar até que todos bebessem primeiro.
     Nesse momento, encontrou no chão um pergaminho que lhe chamou a atenção, intitulado: "O Rio Proibido" e o tomou para si. Ao se aproximar do rio viu uma  bela jovem de olhos amendoados e longos cabelos vermelhos encaracolados. Ela parecia muito triste e lhe disse suavemente apontando para o pergaminho:
-Não conheces a lenda do Rio Proibido? Todos os que tocam em suas águas, a sede nunca passará e o rio o tragará. Noan virou-se instintivamente para o povo e de um a um, todos se transformaram em peixes que pularam para dentro do rio.
      O jovem teve medo e  correu para bem longe. Ao parar  para descansar num lugar mais distante leu o primeiro trecho do Pergaminho:"O amor revive a dor que traz as águas! As águas que trazem a dor revivem o amor!"
    Não sabia o que pensar. Pensou nas palavras que lera, no povo que agora era um cardume e naquela bela jovem triste misteriosa que conhecera. Achou tudo aquilo tão inusitado que, por um instante esqueceu a própria sede que parecia estraçalhá-lo.
    Continuou lendo aquele estranho livro, que, contava-lhe a história de uma princesa que viveu há alguns séculos atrás. Ela era muito cobiçada pelos rapazes da região por sua doçura, bondade e beleza. Por isso, uma bruxa muito malvada, que não era amada por ninguém, baniu a jovem para um lugar  muito distante e lançou-a um feitiço que a manteria lá para sempre. O único que poderia trazê-la de volta seria alguém capaz de sacrificar a sua vida pelo seu amor. A dor da princesa fora tão grande que ela chorou, chorou e não conseguia mais parar. Logo, suas lágrimas se juntaram transformando-se num rio negro.
    Ao ler essas palavras, o guerreiro pensou se a princesa poderia ter existido de verdade ou se era apenas uma lenda. Imediatamente ocorreu-lhe que a moça que conhecera poderia ser a princesa banida, que já exercia um doce fascínio em sua mente.
    Leu então, o fim da história: "Num dia a bruxa visitou a princesa e lançou-a seu ultimo feitiço: "Todos os que beberem de sua água, a sede nunca passará e o rio o tragará. E se o feitiço não for quebrado pelo amor verdadeiro em 24 horas, os peixes nunca mais se tornarão humanos""
     O Guerreiro conhecia a região mais afastada e sabia que, ao andar mais uns cem quilômetros à frente, encontraria seguramente alguma fonte de água. Porém, decidiu retornar ao rio, pois as 24 horas já estavam se esgotando e se não agisse rapidamente poderia perder seu povo para sempre e a chance de salvar a princesa.
     A essa altura, sentia-se quase completamente sem forças, mas apoiando-se num pedaço de madeira que encontrou pelo caminho, conseguiu prosseguir com dificuldade. Parou um pouco, ao sentir tonteira, pois já contavam-se quatro dias sem que ele bebesse qualquer líquido. E, novamente, leu as palavras iniciais do pergaminho: ""O amor revive a dor que traz as águas! As águas que trazem a dor revivem o amor!"
   Fez uma tentativa de decifrar esse enigma, mas ao fazê-lo, percebeu seus olhos fecharem-se. Juntou todas as forças que conseguiu e orou implorando para que vivesse para ao menos conseguir salvar as pessoas que dependiam dele. Ainda não sabia como, mas sabia que só ele poderia ajudá-los. Foi assim que, em meio aos seus mórbidos pensamentos, notou que, havia algo que não lera antes: As letras pareciam-lhe embaralhadas agora, mas, no final do trecho, estava escrito em letras bem pequenas:
"Ao tocar o rio, o rio tocará você"
  Finalmente, conseguiu avistar o rio, do alto de uma colina. Desceu lentamente e viu novamente a jovem que o fitava.
  Ao aproximar-se, pensou em seu amor por todas aquelas pessoas e chorou. Suas lágrimas, que eram a única água que ainda restava-lhe no corpo, derramaram-se profusamente em seu apoio. Foi então que tudo começou a fazer sentido para ele e percebeu o que deveria fazer. Tocou o rio com o pedaço de madeira, que imediatamente devolveu-lhe todo o povo tornando-se azul brilhante. 
   Logo, o povo foi habitar na região do Rio Proibido. Agora, todos podiam beber alegremente de suas águas que nunca se acabavam, pois eram as  lágrimas do amor verdadeiro.
    E assim, a Princesa e o Guerreiro casaram-se e viveram Felizes para Sempre!!