segunda-feira, 29 de junho de 2015




O Cientista Sonhador


Era uma vez um cientista que sonhava em Descobrir um planeta onde reinasse apenas a bondade e a justiça para habitar sózinho com sua família.
Por isso, durante 30 anos ele trabalhou num projeto para construir uma nave espacial para sua viagem exploratória às estrelas.
Ele nunca descansava, pois trabalhava o dia todo, de maneira sistemática. Acreditava estar empreendendo uma obra que valeria todo seu esforço.
Finalmente, quando a máquina estava pronta, ele procurou a família para dar a eles a grande notícia, mas não os encontrou em casa. Andou por toda a vizinhança e nada.Andou por toda a cidade e nada. Andou por todo o país e...
-Espere-pensou então-Eu não tenho família.E agora?Existe por certo planeta ideal para um velho solitário?
E perdeu o alento como já havia acontecido em outrora com sua juventude.
Por todo esse tempo ele só aprendera a sonhar e esquecera de viver.
Entrou em sua máquina e não pôde sequer abrir os olhos para conduzi-la a lugar nenhum.Mas, ele mesmo foi levado sózinho ao mundo de onde não há retorno.

Karen Rocha 


quarta-feira, 17 de junho de 2015





Duas horas

-Ah não, que demora, pfhh
Ouvia-se o monólogo impaciente da menina do outro lado da rua.
Eram onze horas e Alice estava esperando seu pai voltar do trabalho como todos os dias fazia para dar-lhe um grande abraço e um beijo afetuoso.
Aquela parecia ser mais uma de tantas noites para uma garota, filha única e órfã de mãe que era.Mas logo se provou que depois daquele acontecimento, sua vida ia mudar para sempre.
Luzes amarelas do metrô se acetinavam sobre o encalçamento de pedras sistêmicas esverdeadas onde a espera prosseguia.
A menina revezava-se entre as observações frequentes do relógio de pulso que usava e do local que seu pai costumava descer às dez horas e meia.
Sabia que o atraso de meia hora poderia significar qualquer coisa, até mesmo a perda do metrô ou simplesmente queria fazê-la uma surpresa, como em seu último aniversário, que atrasou-se exatamente meia hora. Sorriu dessa vez ao recordar-se a alegria que sentiu ao ver o pai escondido atrás de uma enorme caixa prateada que tampava-lhe o rosto, de onde tirou um lindo urso cor de pêssego, o seu melhor amigo desde então, Lacerote.
Sentou-se parecendo-lhe ver um redemoinho de vultos de passantes, o metrô indo e chegando,os ponteiros do relógio passando...Não tinha nem um celular para ligar para ele.Deitou a cabeça nas mãos ao lembrar que havia esquecido o seu celular em casa.
Pediu o celular emprestado para o segurança. Agora sua intolerância à espera tornou-se angústia e medo de ter acontecido algo muito grave ao pai, pois a discagem caiu na caixa postal.
Assim, Alice sentou-se novamente e começou a chorar e o segurança tentava consolá-la dizendo que ele já ia voltar. Uma velhinha que passava percebeu a dor da criança.
-Querida, o que aconteceu? Posso ajudar? Perguntou maternalmente.
-Não sei...fum.. é o meu pai, ele não..fumf, volta...fum, fum..
-Que horas ele disse que ia voltar, meu bem?
-Dez horas e meia.
-Ah,então é por isso. Dez horas e meia é agora.-Olhe!E mostrou-lhe seu relógio.
Com os olhos vermelhos e inchados,a menina levantou o rosto, enquanto contemplava em câmera lenta a imagem do pai descendo do metrô e acenando para ela.
Fora apenas um engano.Deu-se por si, o que a fez sorrir e correr para abraçar o pai.Seu relógio estava duas horas adiantado.
Suas lágrimas agora eram de felicidade e alívio.Sua vida desde então mudou para sempre, pois até hoje, quarenta anos mais tarde ela se recorda dessa experiência e ainda espera,mas dessa vez por seu amor que ainda não chegou.
Alice aprendeu a ter paciência para aguardar o tempo certo.Para ela, não é seu amor que tarda, mas seu relógio que pode estar duas horas ou até mesmo anos adiantado.

Karen Rocha