sexta-feira, 16 de outubro de 2015






Sonheta

Pesadelis era uma Sucuri de oito metros que vivia na fazenda do Senhor Ricaço. Uma cobra muito temida.Muitas vezes tentaram matá-la, mas não conseguiram.
Um dia, uma menininha chamada Sofia estava passeando na fazenda que era de seu avô e avistou a tal cobra.
-Argh, socorrooo, uma coobraa
Pesadélis foi atrás, enquanto Sofia correu desesperada. Até que, de repente, galhos retorcidos do chão fizeram a menina tropeçar e cair. Ela virou-se para a cobra, deitada, erguendo-se apenas pelos cotovelos e a cabeça. Os olhos inflexíveis aterrorizados pelo réptil que sibilava enquanto armava o bote. Quando a Sucuri levantou-se cerca de um metro e meio pulou sobre a menina, atacando um grande lobo salivante que se encontrava há dois metros.
Logo, a notícia de como a menina havia sido salva espalhou-se. Pesadelis não era mais o pesadelo da família Ricaço que passou a acolhê-la entre os gados. Até deram-na um novo nome: Sonheta.

A cobra tornou-se o animal de estimação da família, que retribuía adquirindo novos hábitos a começar pela alimentação vegetariana a base de folhagens. Seu bote servia agora apenas para alimentar-se de relva nos locais mais afastados e para proteger os Ricaço.


O brilho maior


Havia uma sábia Estrela que brilhava mais forte que todas as outras estrelas da constelação.
Um dia um meteoro que passava admirou imensamente seu brilho e a fitou. Logo, iniciou-se um diálogo entre eles:
-Estrela, oh, sábia Estrela tu que és assim tão brilhante, queres dar-me um pouco de teu brilho?
-Sim, quero.Estava mesmo esperando que me pedisse. Mas, por que razão desejas brilhar?
-Para que eu possa ser como tu és, tão admirada na Terra.
-Se quiseres um brilho semelhante, deves seguir os três mistérios das estrelas.
Dito isto, a Estrela brilhante virou-se para iluminar o outro lado.
-Não sei nada sobre isso.
-Por isso não brilhas.
-Como assim?
-Somente o detentor do brilho das estrelas pode receber seus mistérios em plenitude. O brilho antecede esse conhecimento e não o contrário.
-Ah, então estás me dizendo que preciso brilhar antes de saber como? Não compreendo....
-Se buscares dentro de si mesmo, já saberás como e o restante te será completado após os passos necessários.
-Por favor, diga-me, quais são?
-Estás mesmo pronto?
-Sim, faço qualquer coisa para ter um brilho como o teu.
-Certo. Mas lembre-se: O cumprimento de uma etapa será prerrogativa para o conhecimento da etapa seguinte. Ao completares todas elas, receberás mais luz até o dia perfeito, mas se não...-A estrela fez uma pausa- nunca receberás o brilho que desejas.
O meteoro concordou prontamente dando voltinhas animadas em meio a oportunidade recebida
-Sim, sim, eu aceito.Eu quero, eu quero muito esse brilho maior.
-Está bem. Primeiro-E fixou os olhos no meteoro- precisas saber que não deves desejar usar teu ­brilho ­-­para si mesmo, mas para outros que necessitarem dele. Agora tera início o teu teste.
O meteoro saiu pensativo, pois lembrou-se que anteriormente desejava o brilho para que pudesse tornar-se popular aos que o vissem da Terra. Fez uma oração para que seu coração se transformasse.
Dias depois, ouviu pelo satélite de onde estava, que a Terra estava enfrentando um sério problema de falta de luz devido a escassez de água em muitos lugares. Logo, foi tomado de compaixão pelas pessoas, pois parecia-lhe uma tormenta a escuridão.
Desceu um pouco para ficar mais perto da Terra e reunindo o máximo de intensidade que conseguiu, tentou projetar sua pouca luz nos lugares que estavam escuros. Assim, a luz emanada sobre ele recrudesceu imediatamente, ampliando a luz na Terra e fazendo mais felizes seus habitantes.
Sua alegria foi imensa. Agora ele não era mais meteoro, mas uma estrela, que irradiava menos pela luz que a envolvia quanto pelos que a recebiam por seu intermédio.
Assim, a sábia Estrela retornou.
-Já deves saber que passastes na primeira etapa. Parabéns! Agora deves completar a segunda que é a mais difícil para todos. Sim, estrela, poucos são os que passaram por ela...
-E qual é?- indagou com pesar pelos que não foram aprovados.
-Sem se lembrar de que és uma estrela, deves passar pela água e pelo fogo e subir com perseverança a escada para o céu. Não te será fácil, mas possível se seguires o Mestre das Estrelas.
-E como posso conhecê-lo?
-Duas luzes da mente te apontarão o caminho. Agora vá, desça e receberás um acréscimo de glória e luz.
A estrela então, obedecendo à sábia Estrela, que ensinava-lhe através das duas luzes, entrou na água e depois no fogo e começou a subir as escadas para o céu novamente. Percebeu que, apesar de seu imenso brilho, a tarefa de subir não era fácil e à medida que fazia, por vezes ficava exausta. Quando via estrelas tentando subir, desistindo da escalada ou mesmo com outra necessidade, as duas luzes de sua mente a forçavam a ajudá-las, auxiliando-as e confortando-as.
Passara-me muitos anos, até que algo aconteceu: A estrela recebeu uma projeção maior de luz e cresceu, sendo levada de volta ao céu tornando-se a Lua.
E a sábia Estrela retornou, dando-lhe uma grande festa.
Agora- disse,em meio a um sorriso de encorajamento -basta que desvendes o terceiro e último mistério para que possas receber o brilho semelhante ao meu. Quem é o mestre das Estrelas?
-É o Sol, que és tu mesmo meu Senhor -e prostrou-se aos seus pés-
-Está certo. E por haveres me conhecido, receberás o teu galardão,que preparei para ti desde antes da fundação do mundo.
E foi assim que um simples meteoro se tornou um Sol...







A árvore da consciência


Havia um jovem que desejava deixar sua família e imigrar para outro país. Seus pais viviam brigando e seu irmão mais novo parecia sempre querer atenção que ele achava que não poderia dar. Tencionava deixar tudo isso para trás e iniciar uma nova vida.
Assim, pôs-se ao mar num pequeno barco que conseguiu comprar com suas reservas que fizera por anos de trabalho.
Depois de muitos dias, o barco, já muito velho sofreu um grave vazamento do motor. Por isso, parou numa pequena ilha para tentar consertá-lo.
Assim que desembarcou, estremeceu perante o improvável:
-Tony,Tony, o que desejas?
Assustado, o rapaz olhou ao seu redor e não viu ninguém. Sabia que estava sozinho naquela ilha abandonada.
-Tony, Tony, o que desejas?-Tornou a ouvir.
A voz parecia um vento calmo para sua alma em turbilhão, mas começou a desconfiar que estava ficando louco, pois constatou que de fato não havia ninguém além dele e a natureza exuberante.
E, na terceira vez, entendeu quem era sua interlocutora, pois foi denunciada pelas batidas das asas dos passarinhos que se abrigavam nela.
Era a voz de uma árvore.
-v-vvocê fala?
-É claro que eu falo.Você também não fala?
-É claro que eu falo, mas eu sou...
-Um ser humano?-Cortou-lhe a árvore
-Sim,é, quero dizer...- o jovem ficara agora desconcertado
-Tudo bem, não se preocupe com isso. Você talvez nunca tenha visto uma árvore falar, mas porque nunca quis de fato ouvir.
Agora parecia demais para sua pobre mente.Tony virou-se para o barco e decidiu ignorar o fato de ter ouvido e conversado com uma árvore. Talvez-pensou ele-eu esteja apenas sofrendo de alguma paranóia ocasionada por estar sózinho a tantos dias.
E, começou a trabalhar no conserto do barco.
-Tony,mesmo que ignores, eu estou aqui.
-AGORA JÁ CHEGA-rosnou para si mesmo.
-Tony, não tenha medo...
Mais para acabar com aquele monólogo para seus sentidos do que para dar-lhe vazão, cedeu.
-Tudo bem então, o que desejo, o que desejo?-e virou-se para a árvore despejando uma resposta simples, mas abrangedora- desejo ser feliz.
-Seu pedido será concedido meu jovem
-O que?-e assustou-se ao ver que o cenário da ilha mudara completamente. Ele, de alguma forma misteriosa estava de volta a sua casa. Seus pais correram para abraçá-lo, assim como o irmãozinho, mas ele não retribuiu-lhes.
Entrou contrariado em casa. Ficou por dias trancado no quarto saindo somente para o necessário. Aumentava o som de músicas ensurdecedoras quando a família caia em algum conflito.
Certa noite, enquanto o pai demorava para chegar do trabalho, ouviu a mãe chorando baixinho. Abriu a porta vagarosamente.
-Mãe, ele vai voltar.
-Não é por ele que estou chorando filho. Ele disse que ia se atrasar hoje.
-Ah não? É por que então?
-É por você.
Ver a mãe assim, tão triste por ele, deixou-lhe muito triste e, de repente compreendeu o que acontecera na ilha. Chorou.
-Mãe, me desculpe, me desculpe - e abraçou a mãe fortemente.
Quando o pai chegou e seu irmãozinho acordou para recebê-lo, abraçou-lhes também. Pediu perdão a todos por toda a falta de atenção e expressou seu profundo amor por cada um.
Depois daquele dia ele mudou completamente. Estava mais dócil, receptivo e atencioso com a família. Seus pais nunca mais brigaram- por isso enxergou que ele mesmo era o motivo da briga deles- e seu irmãozinho nunca mais reclamou de falta de atenção.
Agora ele estava muito feliz em casa, pois tornara sua família feliz.­
E esse foi o milagre que aquela árvore fizera por ele.


quinta-feira, 3 de setembro de 2015



Sra. Natureza pintura de paisagem no novo, cores da primavera

A Casa Pintada

Amora era uma menina que morava numa casa de papelão e toras de madeira. Ela sonhava em um dia ter uma casa de verdade.
Uma noite, houve um frio terrível na região em que moravam.Um velhinho que passava em frente a sua casa pediu à menina abrigo e um pouco de comida.
A menina mais que prontamente pediu à avó que ajudasse aquele senhor, ao que ela assentiu.As duas improvisaram uma simples cama no velho sofá rasgado da sala e serviram-lhe um prato de sopa quente.
Ao amanhecer, a menina foi acordada com grossos traços solares que despencaram sobre sua cama. Olhou para o céu e encantou-se com o anil que ele desfilava.Lembrou-se então do velhinho e correu para a sala onde ele dormira,mas ele não estava mais alí. Apenas avistou no sofá um grande embrulho com um bilhete. Curiosa, abriu-o ligeiramente. Era um lindo kit de aquarela com uma tela e moldura com um cavalete para fazer uma pintura.
Ficou fascinada com aquilo e nem lembrou-se do bilhete.Apenas deixou-o cair pelo chão e correu para contar à avó o que haviam ganhado.
Percebeu que só havia tinta e material para uma única pintura.Passou dias pensando o que iria pintar. Não estava conseguindo se decidir. Pensou em fazer um dinossauro, um grande coração, passarinhos coloridos, flores....Em sua indecisão, estava arrumando a casa e achou em baixo do sofá o bilhete que o velhinho havia escrito.Nele dizia:"A vida tem as cores que você pinta"
Passou mais uns dias analisando o bilhete e enfim se decidiu. Pintou uma casa com um belo jardim. Nela colocou um pomar, muitas árvores,flores,um lago, uma cerca e um cachorro. Terminada a pintura, teve a estranha sensação que faltava alguma coisa, mas não sabia o que era.
Ficou frustrada e mostrou a arte à avó para que ela pudesse fazer a avaliação de sua obra.
-Está muito bom querida-disse ela sorrindo-mas está faltando uma coisa só.
-Ah,claro, estava esperando a senhora desejar isso também, vovó.
E com leves toques de seu pincel desenhou a si mesma e a avó.Imediatamente as duas caíram dentro do quadro.
Agora elas tinham uma linda casa para morar.


quarta-feira, 2 de setembro de 2015






O gigante e o robô

Era uma vez um gigante que sofria muita discriminação pelo seu tamanho. Não tinha amigos, pois as pessoas tinham medo dele.
Certo dia, um rapazinho que passava acenou-lhe cumprimentando-o amistosamente.
O gigante ficou tão comovido que pegou o menino no colo e acariciou-lhe a cabeça.
Muitos que viram a cena pararam assustados, pois não sabiam que o gigante era bondoso.
Assim que o menino foi devolvido ao chão sussurou a sua frente
-Missão 114 cumprida.Figura altaneira dissolvida.
Ele era um robô e fora enviado àquela missão para descobrir a sociabilidade do gigante.
Agora o robô tornou-se o melhor amigo do gigante, que passou a ter outros amigos também.









A caverna dos Hamsters

Numa pequena cidade vivia um velho casal solitário. Eles sempre sonharam em ter um filho, mas nunca conseguiram gerar um.
Certo dia,o marido saiu para pescar e nunca mais voltou. Passados anos, a  mulher subiu a uma montanha e, no alto dela viu um Hamster. Ele era muito branquinho e extremamente fôfo e tinha as orelhas bem grandes e rosadas, mas elas não paravam de se mexer, o que logo observou.Ele virou-se de costas e entrou numa caverna.
-Para onde está indo? -Perguntou a mulher curiosa, mas logo estava sentindo-se bôba por estar tentando travar uma conversa com um Hamster  sobre seus hábitos.
Não sabia porque, mas começou a seguir aquele pequeno roedor.
Quando entrou na caverna, ela estava muito mal iluminada e com um forte cheiro acre, mas não se incomodou.
Continuou andando sem perder os olhos do animal, até que ele atravessou rapidamente um laguinho. Alí ela percebeu a razão de sua busca. Ele estava entre os seus, ao que parecia, sua esposa e muitos filhos.
Uma família- falou para si mesma-Eis a razão de minha busca não concebida anteriormente. Sempre sonhei com uma e contudo....-chorou-Me vejo agora no final da vida numa caverna sem saída, pois sinto inveja dessas criaturas.
Enquanto se expressava,as paredes da caverna começaram a ficar cada vez maiores e maiores assim como os Hamsters. De repente, um dos Hamsters pôs-se em sua frente. Ela não conseguia acreditar.Ele estava do seu tamanho. Olhou-se de relance no laguinho que parecia bem maior e contemplou seu reflexo. Ela era agora um Hamster também.
O Hamster a sua frente então disse:
-Não tenha medo, querida, sou eu, seu esposo. Agora poderemos ter muitos filhos, pois os Hamsters procriam muito.

Karen Rocha



quarta-feira, 15 de julho de 2015






A princesa bela e a princesa feia

Haviam duas princesas irmãs que eram muito diferentes. A mais moça, Anelore era loira, alta e esguia e disputada por muitos jovens do reino. Porém, sua beleza não alcançava seu coração.Sempre maltratava seus servos e sua irmã por considerarem-nos inferiores.
A mais velha, Sabrina, tinha cabelos grossos castanhos, que viviam presos e usava óculos.Apesar de não ser considerada uma jovem atraente, amava as pessoas, sempre tratando-as com respeito e consideração, independente de suas funções ou posição social.
Certo dia, o rei Fidélis convocou uma grande festa no reino para casar suas filhas.
Entre os convidados que seriam apresentados às jovens princesas estavam: o filho do Rei de Pombal, o sobrinho do Rei de Sapucaia,que não tinha filhos o filho do Rei de Camélias e muitas outras figuras apreciadas por muitas donzelas de nomes importantes.
No dia da festa,como já era esperado, Anelore estava simplesmente radiante com seus trajes exuberantes cor de lilás púrpura. Seus passos pareciam fazê-la flutuar como plumas de algodão doce. Sua leveza e encanto só poderiam ser quebrados se sua fala a denunciasse como uma princesa mimada e arrogante, o que fazia o tempo todo no castelo.Entretanto, isso ela conseguiu esconder muito bem durante a festa, uma vez que queria portar-se apropriadamente para seus candidatos, como se tivesse roubado a poção da educação de sua irmã.
Sabrina, a princesa considerada feia não quis descer para a festa. Sua desculpa veio através de uma mucama, que explicou ao rei que ela não se sentia muito disposta, mas que ficaria fazendo votos que sua irmã caçula escolhesse um excelente candidato.
O rei conhecendo-a bem,percebeu o que ocorria e mandou-a buscar, mesmo contra a sua vontade.
Depois de muitas respostas de recusa da filha, decidiu ir pessoalmente.
Na altura em que o rei subiu as escadas do palácio para buscar Sabrina e tentava convencê-la a descer,
o banquete já dera lugar ao baile, onde muitos galanteadores de Anelore convidaram-na para dançar. Ela parecia, contudo não se decidir qual dos dotes apresentados valia mais. Com seus pés latejando dentro de seus sapatos um número menor e seus espartilhos sufocantes foi traída por sua ganância e pretensão como se seus pensamentos estivessem socando seu cérebro e disparou:
-Escutem, todos, vocês,é, todos vocês aí...eu não quero mais me alongar...-E atirando os sapatos, sentou-se numa cadeira no centro do grande salão-Eu chamei...ham ham...quero dizer, meu pai, o rei chamou vocês aqui porque eu quero me casar com o rapaz mais rico de todos-Vários pares de olhos arregalados a olharam-É isso mesmo, me digam logo quem é o mais rico de vocês que eu me casarei com ele porque estou muito cansada.
Muitos murmúrios como um grande coral barroco se disseminaram pelo palácio.
Ouvindo os gritos,o rei desceu as escadas correndo, com Sabrina em seu calcanhar, que parecia não se importar com os cabelos despenteados, apenas com o bem-estar da irmã que nesse momento já havia percebido que fora afetado de alguma forma.
E parou na metade da escada como se o seu cérebro paralizasse com a cena que viu.
Vários jovens bem vestidos e bonitos assustados pareciam revoltados rodeando a princesa loira como lobos selvagens prontos para o ataque
-Não queremos, nenhum de nós quer casar-se com essa moça prepotente e esnobe.
- Ela só pensa nas riquezas que podemos dá-la.
-É, que tipo de homem se casaria com uma mulher dessas?
Diante disso, o rei pediu perdão a todos dizendo sentir muito pela postura de sua filha, que não estava em seu perfeito juízo desde a morte de sua esposa e prosseguiu:
-...porém, se estás hoje aqui, no palácio real, com o intuito de buscardes uma princesa não para saciar-se com seu ouro e prestigios, mas com o amor que há em seu coração que é a maior dádiva que podem dar e que será capaz de transbordar esse sentimento pelos confins do império e muito além...eis aqui sua princesa-E apontou para Sabrina, que de alguma forma até então parecia invisível na escada e agora desenhava um meio sorriso olhando sem graça ao redor-
Sabrina desceu a escada e abraçou a irmã.Anelore recusou o abraço e correu, soluçando para seu quarto.
A irmã mais velha quis então fazer alguma coisa. Nunca soube exatamente se, após a morte da mãe a irmã teve dificuldades de ter sentimentos bons pelas pessoas ou apenas de expressá-los, mas sabia que deveria fazer algo e, expressou-se firmemente, diante de olhares curiosos:
-Meu nome é Sabrina, prazer. Eu não me preocupo com a quantidade de metais que vocês tem, nem com sua posição social, mas meu sonho é casar-me com alguém que eu ame de verdade. Minha irmã também é assim, embora ela não saiba como expressar isso. Ela acredita que não temos escolha, que temos que nos casar com alguém que dê continuidade ao bom nome da família e que isso não tem a ver com amor.Minha irmã, sei que está agora ouvindo-me, então, rogo-lhe que acredite em mim. Temos escolha. O papai não vai nos obrigar a nos casar com qualquer um desses rapazes se não quisermos, não é mesmo, pai?...
E o rei fez um hum-hum, meio sem graça
...então, querida, não tenha medo, apenas conheça um desses jovens e eu farei o mesmo e quem sabe aqui não vai encontrar um de que goste?
Mas Anelore não quis descer.
Então, um dos príncipes, um belo jovem de cabelos castanhos e olhos de mesmo tom amendoados inclinou-se perante Sabrina e disse:
Em todo o reino, nunca vi tamanha beleza-Ouvindo isso, Anelore saiu do quarto e espiou pelo corredor do segundo andar o que acontecia lá embaixo e parecia não acreditar.
O mais bonito dos príncipes presentes e mais rico também- o que foi conhecido depois-pediu a mão da princesa Sabrina em casamento.
Ela recusou educadamente
-Como já disse caro príncipe, podemos nos conhecer primeiro, pois não me casarei com ninguém que não ame. Mas podemos sair se quiser.
Ao que foi respondido com um beijo em sua mão e olhos absolutamente fascinados.
Depois de sairem muitas e muitas vezes e muitas recusas de anel de noivado, finalmente a princesa Sabrina aceitou casar-se com o príncipe.
No dia do casamento, Sabrina estava muito bonita.Dessa vez não usava os óculos, seus cabelos estavam impecáveis juntamente com seu vestido e todo o resto.
Sua beleza exterior ficara tanto tempo atrás de seus óculos e rabos de cavalo que não era percebida, mas nesse dia todos descobriram como era sumamente bela também por fora. Logo, foi considerada a jovem mais bonita de todo o reino.
Depois do casamento, em que passou muito ponderada, Anelore começou a tomar atitudes muito diferentes. Começara a tratar os servos e a todos com gentileza e respeito. As pessoas nem estavam acreditando o quanto ela havia mudado.
Certo dia, enquanto Sabrina visitava a sua casa para anunciar que estava grávida de seu primeiro filho, decidiu perguntar a irmã qual o motivo de sua mudança.
-Simplesmente-Ela disse-aprendi com minha irmã querida a importância do amor e que ele vale mais que todas as riquezas deste mundo.-E as duas chorando se abraçaram, ao que o rei juntou-se a elas no mesmo ato.
Passados meses, Anelore também encontrou o amor de sua vida e casaram-se para a eternidade, tal como a irmã.
Assim, as duas princesas tornaram-se as jovens mais belas de todos os reinos que as conheciam.









sábado, 4 de julho de 2015




A carta

Era uma vez uma menina de doze anos que vivia muito solitária. Sua mãe morrera quando ela tinha apenas cinco anos de idade e não conhecera outras pessoas que ela pudesse chamar de família. Fora adotada por um casal que a tratava com muita indiferença e certa crueldade. Nunca conversavam com ela e faziam questão de lembrá-la sempre que só a adotaram devido à herança que sua mãe a deixou.
Suas roupas eram velhas e surradas, pois a mãe de criação só dava-lhe roupas do bazar e quando um agente de adoção ia visitá-la em sua casa, anualmente.
E além disso, tinha que acordar de madrugada para comer alguma coisa sem ser censurada pelos "pais".
Estudava na melhor escola do país por decisão judicial, mas lá também sofria muito. Suas roupas rasgadas, davam-lhe um ar maltrapilho e carente, o que a fazia sofrer muita discriminação entre os colegas.
Por isso, apesar de suas ótimas notas,ela não tinha alguém que considerasse seu amigo.
Certo dia, enquanto estava indo para a escola, andando, como normalmente fazia, encontrou no chão um envelope de aspecto muito antigo, amarelado pelo tempo.
Curiosamente, a menina apanhou-o e virando-o no lado do remetente leu: "Sua mãe"-seguido do primeiro nome de sua mãe biológica- e no lado do destinatário estava seu próprio nome. De forma expontânea pensou:"Coincidência de nomes..." mas sua percepção inicial logo se dissipou dando lugar a um susto de alegria quando viu embaixo também seu sobrenome.
-Ãh, sou eu?E é de minha...minha mãe?!
Era uma carta e estava lacrada. Rasgou-a com velocidade e desdobrou-a no mesmo ritmo enquanto parava para lê-la. Enquanto seus olhos seguiam os horizontes das palavras e frases ao longo de toda a página, chorou.
Virou-se então. Não estava mais indo para a escola, mas de volta à sua casa.Pegou suas coisas e dirigiu-se ao juizado infantil. Era uma carta-documento com a assinatura da mãe biológica que dava-lhe autorização para emancipar-se aos doze anos se fôsse sua vontade.
Sua mãe a escrevera pouco antes de falecer de câncer, em seu leito, prometendo à menina que,mesmo que não estivesse aqui nesta Terra fisicamente, que um dia a menina leria essa carta. Expressava-lhe seu grande amor pela filha, que a morte não poderia destruir. Também mencionava seu pai biológico, que havia morrido enquanto a mãe estava grávida dela e pedia que ela fôsse procurar pelos avós paternos que era a única família que ainda tinham.
Decorridos meses, conseguiu a liberdade tão sonhada por ela e por sua mãe. Foi morar em outro país com os avós paternos que a tratavam como uma princesa.
Na nova escola que estudou,a melhor desse país, decidiu fazer um teste para saber se poderia confiar em alguém para ser seu amigo.
Vestiu-se da mesma maneira que se vestia na outra escola e, para sua surpresa, uma menina e dois meninos tornaram-se seus amigos. Eles gostavam da menina por quem era, de tal modo que quando ela revelou sua verdadeira identidade rica, nada mudou entre eles.
Agora sentia-se completa. Tinha uma família que a amava, amigos maravilhosos e a carta que mudou a sua vida para sempre.











quarta-feira, 1 de julho de 2015





A florzinha triste e o passarinho

Era uma vez uma linda florzinha que vivia num grande campo.Apesar de sua beleza, ela sofria de solidão, pois em todo o redor, não haviam outras flores com quem ela pudesse conversar.
Certo dia, um passarinho que passava por ela, parando, a admirou:
-Que florzinha mais encantadora!De tamanha beleza e raro perfume, eu nunca vi igual em todos os campos que voei.
E a florzinha abaixou suas pétalas e delas sairam gotas de lágrimas perfumadas.
- fumpf, fumpf, o-obri-gada
E o passarinho se aproximou mais para observá-la melhor.
-Ei,ei,ei,mas o que acontece?-tentando levantar suas pétalas- Tua beleza é tão grande quanto tua tristeza. Por que choras, linda flor?
-Eu, eu...
-Está tudo bem-o passarinho dessa vez deitou sobre suas pétalas e coroa e as bicou carinhosamente-Pode confiar em mim
 -Sou a mais triste e miserável das flores.
-Como assim?Não diga isso querida.
-Sim, digo sim porque é o que sou.
-Mas o que a torna tão triste?
-Não há beleza que compense a solidão e como pode ver eu vivo aqui nesse imenso campo sózinha, desde que...bom..desde que brotei.
-Mas e seus pais, sua família?
-Todos morreram numa grande enxente que devastou a nossa comunidade. Antes aqui era um imenso jardim,o mais bonito de todos.Todos viviam felizes. Somente eu fiquei para contar a história. Isso porque eu ainda não havia brotado totalmente, o que me fez sobreviver mais facilmente.Agora, agora...
-Agora o que florzinha?
-Nem consigo mais sorrir.Não sei o que é ser feliz por estar sózinha aqui.
-Quem disse?
-Quem disse o que?
-Você está enganada. Há muitas flores nesse campo, mas que não consegue ver.
-Como assim, passarinho?
-Eu estou dizendo que se você olhar com fé conseguirá ver o campo todo florido, como era antes.
-Mas o que é fé?Ainda não entendi
-É acreditar no que você não vê,mas que é real.
-É sério?Você está dizendo que se eu acreditar eu...
-Sim-interrompeu-a o passarinho-você conseguirá ver aquilo que deseja.
-Mas eu não acredito, infelizmente-E abaixou as pétalas novamente
-Mas você quer acreditar?
-E a florzinha pensou por 10 minutos ao que no final abriu as pétalas-Sim, eu quero, eu quero, eu quero ter fé, você me ajuda?
-Claro, feche os olhos e as pétalas e ore até acreditar e quando abri-los...pufhh...-e fez um rodopio-tudo irá se transformar em seu campo ideal novamente.
E a florzinha, tão chorona  ainda descrente começou a orar com os olhos e pétalas fechados. A depressão em que estava era tão grande que roubou-lhe suas crenças,mas ainda assim decidiu confiar no passarinho que parecia ser um bom amigo
Passaram-se dias, meses,sim, seis longos meses e aconteceu algo:
A florzinha finalmente começou a acreditar...e sua crença foi ficando cada vez mais e mais forte, até que ela sentiu o cheiro de campo florido, como era antes da enxente e bradou alto enquanto levantava imperiosa suas pétalas:
-Sim, eu acredito, eu tenho fé, eu sei...
E qual foi sua surpresa quando, voltando em si, viu novamente o campo florido,como era antes da enxente.
Ficou tão feliz que agora conseguia sorrir para todas as flores que a cumprimentavam de maneira amigável. Agora ela tinha uma família de novo!
E olhando para o alto, viu o passarinho pousar sobre ela.
-Obrigada passarinho.Te amarei para sempre
-Também te amo linda florzinha.
Dito isso,o passarinho a bicou, fazendo-a sorrir e partiu piscando um olho e deixando cair, sem perceber, uma das sementes que ele usara para plantar aquele lindo jardim.








segunda-feira, 29 de junho de 2015




O Cientista Sonhador


Era uma vez um cientista que sonhava em Descobrir um planeta onde reinasse apenas a bondade e a justiça para habitar sózinho com sua família.
Por isso, durante 30 anos ele trabalhou num projeto para construir uma nave espacial para sua viagem exploratória às estrelas.
Ele nunca descansava, pois trabalhava o dia todo, de maneira sistemática. Acreditava estar empreendendo uma obra que valeria todo seu esforço.
Finalmente, quando a máquina estava pronta, ele procurou a família para dar a eles a grande notícia, mas não os encontrou em casa. Andou por toda a vizinhança e nada.Andou por toda a cidade e nada. Andou por todo o país e...
-Espere-pensou então-Eu não tenho família.E agora?Existe por certo planeta ideal para um velho solitário?
E perdeu o alento como já havia acontecido em outrora com sua juventude.
Por todo esse tempo ele só aprendera a sonhar e esquecera de viver.
Entrou em sua máquina e não pôde sequer abrir os olhos para conduzi-la a lugar nenhum.Mas, ele mesmo foi levado sózinho ao mundo de onde não há retorno.

Karen Rocha 


quarta-feira, 17 de junho de 2015





Duas horas

-Ah não, que demora, pfhh
Ouvia-se o monólogo impaciente da menina do outro lado da rua.
Eram onze horas e Alice estava esperando seu pai voltar do trabalho como todos os dias fazia para dar-lhe um grande abraço e um beijo afetuoso.
Aquela parecia ser mais uma de tantas noites para uma garota, filha única e órfã de mãe que era.Mas logo se provou que depois daquele acontecimento, sua vida ia mudar para sempre.
Luzes amarelas do metrô se acetinavam sobre o encalçamento de pedras sistêmicas esverdeadas onde a espera prosseguia.
A menina revezava-se entre as observações frequentes do relógio de pulso que usava e do local que seu pai costumava descer às dez horas e meia.
Sabia que o atraso de meia hora poderia significar qualquer coisa, até mesmo a perda do metrô ou simplesmente queria fazê-la uma surpresa, como em seu último aniversário, que atrasou-se exatamente meia hora. Sorriu dessa vez ao recordar-se a alegria que sentiu ao ver o pai escondido atrás de uma enorme caixa prateada que tampava-lhe o rosto, de onde tirou um lindo urso cor de pêssego, o seu melhor amigo desde então, Lacerote.
Sentou-se parecendo-lhe ver um redemoinho de vultos de passantes, o metrô indo e chegando,os ponteiros do relógio passando...Não tinha nem um celular para ligar para ele.Deitou a cabeça nas mãos ao lembrar que havia esquecido o seu celular em casa.
Pediu o celular emprestado para o segurança. Agora sua intolerância à espera tornou-se angústia e medo de ter acontecido algo muito grave ao pai, pois a discagem caiu na caixa postal.
Assim, Alice sentou-se novamente e começou a chorar e o segurança tentava consolá-la dizendo que ele já ia voltar. Uma velhinha que passava percebeu a dor da criança.
-Querida, o que aconteceu? Posso ajudar? Perguntou maternalmente.
-Não sei...fum.. é o meu pai, ele não..fumf, volta...fum, fum..
-Que horas ele disse que ia voltar, meu bem?
-Dez horas e meia.
-Ah,então é por isso. Dez horas e meia é agora.-Olhe!E mostrou-lhe seu relógio.
Com os olhos vermelhos e inchados,a menina levantou o rosto, enquanto contemplava em câmera lenta a imagem do pai descendo do metrô e acenando para ela.
Fora apenas um engano.Deu-se por si, o que a fez sorrir e correr para abraçar o pai.Seu relógio estava duas horas adiantado.
Suas lágrimas agora eram de felicidade e alívio.Sua vida desde então mudou para sempre, pois até hoje, quarenta anos mais tarde ela se recorda dessa experiência e ainda espera,mas dessa vez por seu amor que ainda não chegou.
Alice aprendeu a ter paciência para aguardar o tempo certo.Para ela, não é seu amor que tarda, mas seu relógio que pode estar duas horas ou até mesmo anos adiantado.

Karen Rocha