sábado, 30 de abril de 2016





A ilha dos sonhos

Um pobre homem e seu filho adolescente Renan receberam do tio avô do rapaz 
que havia falecido, uma mansão em um país chamado Ambrósio.
Para chegarem a esse lugar, deveriam viajar por um oceano muito perigoso. 
Mas decidiram encarar a aventura porque ansiavam muito ter uma linda casa.
Embarcaram num navio muito velho. Após alguns dias, ele sofreu um grave vazamento do motor.
Tiveram então que entrar em um pequeno bote e remar para chegarem a costa. Passaram por sérias dificuldades, como fome, sede e cansaço.
Depois de um ano , o pai ficou bem doente e morreu, sendo preciso que o filho o jogasse ao mar com pesar e dor, fazendo com que de suas lágrimas se juntassem ao oceano.
Mas decidiu jamais recuar. Não era só por ele, mas também pelo pai e o legado que esperava que levasse por gerações.
Então, mesmo em meio a alucinações resultantes da escassez de alimento e água potável, o rapaz prosseguiu.
Ele remava, remava e remava sem parar, até quando anoitecia e dormia sobre os remos.
Até que avistou terra firme, uma pequena ilha que parecia abandonada.
O rapaz explorou-a e sua alegria foi imensa quando encontrou água e comida em abundância. Parou para refletir sobre como chegaria ao Ambrósio.
Enquanto assim fazia, ouviu uma voz que dizia:
 -Renan, Renan, levante-se e peça-me o que desejas.
Assustado, o rapaz levantou-se, mas não viu nada.A rajada do forte vento o assustou, fazendo voar passarinhos que disputara com ele as maçãs de uma árvore próxima.
-Não me ouves?- A voz continuou.
Agora ele começou a achar que estava ficando louco, pois ao aguçar os seus olhos, constatou que de fato não havia ninguém além dele e a natureza que o cercava.
-Quem está aí?- arriscou perguntar.
- Seu subconsciente.- Respondeu a voz.
- Como assim?
- Você está num sonho agora. Esta ilha é o que o prende aos teus desejos mais profundos. Peça e receberás o teu presente.
-Posso pedir o que eu quiser? Quis saber o jovem ansioso.
-Não exatamente.Há duas portas onde poderás entrar: a do passado e a do futuro. Uma renunciará a outra ao ser acionada.O que for escolhido será o teu presente.
E antes que o rapaz trouxesse mais uma dúvida ao interlocutor, este disse:
-Apenas feche os olhos e ouças a ti mesmo. Só saberás pedir se souberes o que desejas realmente.
Outra onda de vento tocou seus cabelos com força.  Cerrou os olhos e leu a sua própria mente.
"O que eu quero de verdade? Está aqui..aqui...Exatamente! É isso! O que mais anseio agora..."- Seus pensamentos ficaram agitados como as ondas que tragaram seu pai.
-Sim, desejo...MEU PAI DE VOLTA !Falou com segurança.
E um forte redemoinho levou-o de volta ao passado, com seu pai, na pequena casa onde moravam. 
O rapaz sabia que um dia chegaria o dia em que herdaria a mansão. Mas não a aceitaria.
Escolheu o amor e não a mansão, pois sabia qual dos dois valia mais. 

quinta-feira, 28 de abril de 2016





O silêncio da princesa

Há muito tempo atrás havia um jovem príncipe que estava procurando uma moça  para se casar. Para isso ele percorreu todo o reino, mas nenhuma moça o agradou. 
Um dia foi tomar água num poço e uma borboleta pousou sobre sua cabeça.
-Pobre príncipe- disse a borboleta- porque estás a procurar uma jovem se a donzela certa já está ao teu lado?
O rapaz não entendendo o que ela estava dizendo desejou perguntar. 
Mas a borboleta bateu as asas e voou para bem longe sem mais explicações. 
Naquela noite ele não conseguiu dormir, pensando sobre a frase dita por aquela misteriosa voadora.
Pensou em todas as moças solteiras  com quem tinha contato: as amas, as tecelãs, as jardineiras, as cozinheiras, mas nenhuma parecia ser a certa.   
Havia amanhecido e ainda não sabia qual era a moça que ele deveria procurar. 
E no momento em que refletia, Judith, a filha da ama de sua mãe,a rainha aproximou -se. 
Eles eram amigos desde quando se lembrava. Nunca havia cogitado a possibilidade de namorá-la e muito menos casar-se com ela. 
Mas pela primeira vez, naquele momento, enquanto os passos da jovem se direcionavam a ele, disse a si mesmo:
"Talvez sim. Por que não?"
A conexão entre seus cérebros parecia se ligar ininterruptamente a medida em que se olhavam. 
-É você? -perguntou o príncipe à moça. 
- Eu não sei o que está falando, mas eu tenho uma solução para a questão do seu casamento.- Afirmou a moça sentando-se ao seu lado para tomarem o desjejum com a inteligência e liderança que sempre fizeram parte dela. 
-Ah- suspirou o jovem príncipe , continuando  seu diálogo interno, agora se recriminando por pensar na amiga daquela forma. 
Mas Judith continuou:
-Você sempre gostou de música. Sugiro que convide todas as moças do reino para cantarem para você. Aquela que melhor lhe agradar os ouvidos, escolha para ser tua esposa. Porém, elas devem estar de máscara. Somente depois de escolhida a tua princesa, deves tirá-la. 
O príncipe achando a ideia interessante fez um grande baile de máscaras onde foram convidadas todas as moças do reino. 
De uma a uma, todas cantaram. Mas tantas vozes eram lindas que o príncipe ficou muito confuso. 
No momento da última candidata, o príncipe pediu que cantasse como fizera com as outras, mas ela permaneceu em silêncio. 
Ele insistiu por mais uma, duas, três vezes e nada :Um silêncio completo, sendo quebrado apenas pelos murmúrios dos convidados. 
Até que o príncipe  finalmente anunciou com convicção e alegria na voz:
- EU JÁ ESCOLHI MINHA PRINCESA!
Todos ficaram muito curiosos. Ao longe podiam-se ver muitas moças animadas. 
O príncipe pegou um anel, colocou no dedo da escolhida e casou-se com ela ali mesmo. 
Foi então que retirou a máscara da moça. Era sua amiga Judith. Só poderia ser ela. E o silêncio foi um sinal de que ela era única, para que ele a reconhecesse.





Alameda perfumada 

Havia uma alameda de arvores altas e esguias. Numa das esquinas, um poste com um letreiro indicava :Rua das flores perfumadas. 
"Que nome lindo"! Pensou a errante arrancando uma flor da árvore e cheirando-a.

-Agora eu sei o motivo do nome. Esses cravos tem simplesmente o perfume mais sensacional que já provei. 
-Obrigado-Disse uma vozinha. 

-Quem está aí? Perguntou a menina assustada olhando ao redor. 
-Se não me conheces, porque me admiras? 
Pensou que essa era uma boa pergunta, mas não sabia como responder. 
-Admiro muitas coisas boas. Quem és tu dentre elas? 
-Não sou a parte,mas o todo, pois tudo o que é belo desenha o grande círculo eterno.
-Não compreendo. 
-Dissestes bem. Não compreendes, por isso deves aguçar tua mente e só então a alva romperá em ti revelando o caminho dos sábios. 
-O que devo fazer para conhecer -te?  Diga-me então. 
-Estás pronta? A voz perguntou agora elevando-se um pouco. 
- Acho que sim. 
-A verdade não pode ser manifestada dessa forma. Se não "achares",  a certeza baterá à tua porta e ceará contigo. 
-Ah, sim. Preciso de um tempo para captar tudo isso. 
-O tempo te será entregue com o vento, pois ambos refrescam e não voltam para um único lugar de modo idêntico. 
E a menina preencheu suas próximas seis horas com reflexões profundas.
Cada minuto alimentando a parte pobre de sua alma. Foi só  então que começou a entender. 
Olhou para a florzinha que havia arrancado. Ela estava murcha. Aspirou-a e notou que seu perfume já não existia mais. 
-Ah-lamentou a garota para a florzinha-Eras tão bela e cheirosa. Como é que ficaste assim? 
Foi aí que ouviu e reconheceu quem dizia:
-Você me tirou de minha família. Pra onde irá me levar agora? 
E a menina guardou-a dentro de seu diário ressentida,  como uma lembrança de que nunca mais arrancaria uma flor porque agora as conhecia.  

quarta-feira, 27 de abril de 2016




A batata que não queria ser frita

Qual o destino de uma batata? Depende de seu captor. Se ele desejar pode usá-la num suflê, numa fornada com frango assado, cozida com almôndegas e ah sim, a preferida por muitos humanos e a mais temida por algumas batatas:batatas fritas! 
E se ela conseguir, ainda pode evitar de ser devorada por apreciadores da classe. 
Ah mas saibam que as mais espertas aprenderam ao longo do tempo a burlar o sistema e algumas assim escaparam com vida, mesmo perdendo algumas de suas partes. 
Uma vez uma delas destemperou-se ao ser levada na boca de uma criança. Como ela não sabia falar, chorou. A mãe não entendendo o que estava acontecendo, jogou fora a batata que comemorou feliz. 
Outra esfriou-se rapidamente no prato de um jovem num Fast Food. Ele nunca mais voltou nesse lugar, centro da vitória de uma guerra. 
Nesse cenário, havia uma batatinha que, embora jovem e inexperiente tinha muito desejo de jamais ser queimada.  Preferia ser afogada numa panela de legumes a ser frita com óleo quente numa frigideira qualquer. Essa dor parecia tão dilacerante que só de pensar perdia um pouco sua água e secava. 
Um dia foi comprada para um restaurante. Dentro de um saco num campo de concentração, ali estava ela, encolhidinha sob dezenas delas. 
-A medida em que suas amigas iam servindo aos seus propósitos, não podia dizer qual lhe era reservado. 
O restaurante fazia vários pratos, desde os mais simples aos mais sofisticados. 
Pensou em todas as técnicas aplicadas por outras, mas não sabia como usá-las.
"Por que não temos uma escola de batatas onde aprender as técnicas de sobrevivência usadas por nossos ancestrais? "-Pensou a batatinha. 
Sua ideia pareceu-lhe simplesmente brilhante naquele momento, mas pouco prática, pois sabia que não a salvaria. 
Lembrou-se então de todas as batatas que já haviam passado por essa ansiedade antes, seja não querendo ser frita, cozida ou assada e por fim sepultadas numa boca. Sentiu compaixão por todas elas. 
"Como elas sabiam? Como conseguiram estabelecer mecanismos de defesa se ninguém as ensinou? -Refletiu seriamente. 
Foi aí que como se um jato prateado entrasse em sua mente,  encontrou a solução :
"Sim, cada uma desenvolveu um método jamais ensinado numa escola formal porque somos batatas e cada uma reage de formas diversas ao meio em que vivemos. Eu por exemplo perco a minha água ao pensar que estou sendo frita."
-É ISSO, É ISSO-disse tão alto para as outras que poderia ser testemunha num tribunal que os humanos a ouviram. 
E começou a pensar incessantemente que estava prestes a ser frita. 
Suas reflexões doentias tornaram-se tão profundas quanto o saco em que estava. 
Cada conexão neurológica retirando dezenas de gotinhas de água do interior da batatinha. 
Restava -lhe pouco tempo. Seria uma das próximas a ser recolhida, mas continuou seu trabalho. 
Seria considerado loucura em outras circunstâncias, mas era agora sua única saída. 
Assim, o cozinheiro-chefe pegou-a. Seus olhinhos a focaram curiosos. Nunca havia visto uma batata tão seca. 
- De nada me serve essa-contou ao ajudante. 
E a batatinha foi lançada ao lixo. Foi aí que imaginou-se com asas, pois estava voando para a liberdade.  



Árvore com pés

Era uma vez uma árvore sonhadora. Seu maior desejo era poder andar e viajar o mundo inteiro até encontrar um lugar ideal para viver. 
Um dia de muito sol,TIMBAM, uma fadinha parou nela para descansar e aproveitar a sombra de sua copa. 
E a fada sentiu-se tão grata pela árvore que disse a ela:
-Eu estava muito cansada e com muito calor hoje e por ter me dado sombra e um lugar para descansar pode fazer dois pedidos que lhes serão concedidos.
A árvore ficou muito feliz e seu  primeiro pedido foi:
- Eu quero ter pés. 
-Seu pedido será concedido -Disse a pequena fada-Mas todo dom deste mundo tem seus limites. Depois que fincares suas raízes nunca mais voltarás a ter pés.
 E com um estalar de seus dedinhos, PLUFT, a árvore recebeu dois pés.
Assim, começou a andar em busca de uma terra perfeita. Todos os dias caminhava por muitas horas, mas nenhum lugar parecia fornecer a satisfação que buscava. 
Com o tempo começou a ficar muto cansada de andar e achou que era o momento de fazer o segundo e último pedido.
-Quero ter uma bicicleta para que eu possa procurar mais rapidamente o meu destino.
E TIMBAM, a fadinha voltou e PLUFT. A árvore recebeu uma linda bicicleta.
Mas antes de despedir-se a fadinha alertou:
-Ao perseguires teu sonho, não te esqueças:Tuas escolhas determinarão tua morada eterna. Aproveites enquanto tens liberdade para escolher, pois haverá um momento em que a aceitação das consequências será tua única escolha.
A árvore sentia-se agora tão feliz que achou que poderia abraçar o mundo com seu sorriso.Mas com o tempo ficou cada vez mais exigente. Nenhum lugar era bom o bastante para ela.
Até que um dia chegou num jardim muito frio com muitos pinheiros e um lindo lago. Lá haviam diversas flores coloridas com todos os tons do arco-íris. A árvore então bramou:
-ACHEI, FINALMENTE ACHEI MEU LUGAR TÃO SONHADO!
E correu para a terra mais macia e fôfa que encontrou. Estava certa que aquele era o tereno certo e lá fincou suas raízes. 
Mas a árvore começou a desfolhar-se. Não sabia o que estava acontecendo, Quando percebeu não havia como voltar atrás. 
Ela não estava adaptada ao clima dos pinheiros, nunca seria de fato feliz e produtiva naquela terra. 
Então adoeceu e envelheceu sentindo saudades do tempo em que estava entre os seus e era de fato feliz sem saber. 


Coração de gigante

Um dia uma nave  pousou em um planeta muito distante da Terra chamado Dorus, onde habitavam gigantes. 
De dentro dela saiu um homem que ao pisar nesse solo disse a um gigante armado.
-Quero falar com o líder! 
O gigante não respondeu nada. Apenas passou seus olhos pelo estranho por uns minutos e suspirou. 
-Quem é você? -Perguntou finalmente.
-Sou um astronauta e vim com uma missão. Preciso falar com o líder. 
Mas o gigante gargalhou tão alto que o homem teve a impressão de ter ficado surdo. Pegando-o pelo colarinho, colocou-o dentro de uma caixa de sapatos de gigantes com pequenos furinhos e o levou ao líder.
-Esta criatura das estrelas pousou em nosso mundo hoje. Diz que precisa falar com você. Mas se quiser posso assá-lo, usá-lo como patê ou...
Mas o rei ordenando que o retirasse da caixa imediatamente, encerrou o diálogo.
-E agora saia.  Apenas faça seu trabalho e não me dê conselhos.
Depois que o pequeno homem aprumou-se, sendo colocado na frente do rei que era três vezes o seu tamanho,o líder dos gigantes perguntou-lhe:
- Quem és tu e o que tens a dizer a mim, senhor de toda esta terra? 
-Sou Virgílio -Começou o homem- vim de uma terra longínqua com uma missão. Preciso avisá-lo de que um grande monstro predador de gigantes chamado Rescúlio está a caminho e destruirá seus habitantes. Mas eu trouxe algo que poderá salvá-los. Tomem esta poção.Ela os fará ficar com o meu tamanho. E se o monstro os olhar, passará direto.
E entregando-lhe uma garrafa com um líquido incolor, o homem prosseguiu:
-Cada um de vocês deve tomar apenas uma gota até a meia noite. Esta é sua única chance,  porque senão será tarde demais.
O rei olhou para aquela garrafa tão pequena e o homem entendeu sua dúvida. 
-Não se preocupe -disse o astronauta-tem o suficiente para todo o povo.  Essa poção tem a propriedade de multiplicar-se enquanto se precisar dela. 
E o grande líder dos gigantes acreditou nas palavras daquele homem porque mesmo pequeno em tamanho ele parecia ter grande sabedoria. 
Então, o rei tratou de transmitir a notícia ao povo. O medo que sentiram de Rescúlio era maior que a tristeza por perderem seu tamanho. Logo, todos os gigantes da terra tomaram a poção e ficaram pequenos, exceto o gigante Titanus, o mesmo que prendera o homenzinho.  Ele não acreditava que seriam destruídos. 
Mas a meia noite chegou e como tinha sido dito,  um grande monstro de três cabeças de Dragão e corpo de serpente com asas percorreu a terra dos gigantes. Rescúlio era de fato assustador. Ninguém ousou sair de casa, mas agarraram-se uns aos outros em choque. Quando, de repente o monstro tomou o único gigante que sobrara, Titanus, o guarda descrente, e o levou pelas asas. 
Todos choraram pela perda de um deles, mas estavam agradecidos porque o restante fora salvo. 
Fizeram então uma grande festa, onde o rei mencionou passar sua coroa para o homem que os salvou. Mas este disse:
- Não oh, digníssimo rei, minha missão agora está cumprida. Mas sempre me lembrarei de vocês!
Dito isto, entrou em sua nave retornando ao seu planeta. E lá ganhou duas coroas de honra, uma por ter sido leal a missão e outra por envolver -se nela com o coração. 





O guarda- roupas voador

Luca e seu irmão mais velho Fred tiveram uma ideia :brincar de pique-esconde. 
Haviam acabado de se mudar para uma grande casa, por isso ainda não conheciam os locais que poderiam se esconder. Mas esse foi o fato que acrescentou emoção a brincadeira. 
Cada um dos cinquenta cômodos de estilo medieval trazia às imaginações dos meninos, um tom de mistério. 
Por isso aquela brincadeira pareceu-lhes um filme eletrizante de investigação. 
Estava na vez de Fred procurar. Depois de contar até vinte, iniciou seu processo de busca. Após muitos lances de escada acima e abaixo, portas diversas abertas e  de certificar -se de ter sido minucioso em olhar cada detalhe da casa, concluiu:ou seu irmão havia trapaceado se escondendo no jardim ou algo estranho havia acontecido porque ele não parecia estar em nenhum lugar.
Fred foi olhar no Jardim e lá também não encontrou o menino.  Logo verificou que seu seu segundo palpite havia se confirmado. Mas o que poderia ter acontecido a Luca? 
Os pais dos garotos haviam saído, por isso o rapaz sabia que não havia outra opção senão encontrar logo seu irmão antes que eles chegassem. 
Recomeçou a procurá-lo em cada canto , até nos lugares menos prováveis, como dentro da geladeira e no forno à lenha. E verificou que o irmão não estava mesmo por ali. 
Começou a ficar realmente preocupado, até que um dos cômodos chamou-lhe a atenção : o quarto de hóspedes do terceiro andar. Era o único aposento que estava completamente vazio, apenas com uma velha cortina branca que balançava contra o vento e uma grande marca no chão de algum móvel que parecia ter sido deslocado do espaço  recentemente. 
Enquanto o rapaz observava o ambiente, o silêncio foi quebrado por um barulho que pareceu -lhe de portas enguiçadas batendo-se freneticamente. Assustou-se. Mal teve tempo de imaginar o que estava acontecendo quando de repente percebeu que a causa vinha de fora da casa. Abriu a janela e teve uma grande surpresa. 
À sua frente havia um grande guarda-roupas com asas e dentro de uma de suas portas, um personagem que lhe era muito conhecido:seu irmão Luca. 
Nem estava acreditando naquilo. Como assim? Um guarda roupas voador? E seu irmão, o piloto? 
Antes que o raciocínio levasse-o a alguma conclusão, Luca fez sinal para que Fred deixasse-o passar. E guarda-roupa, asas e o menino reocuparam o espaço vazio. 
Foi então que Luca contou-lhe tudo o que havia acontecido. Ele entrara no guarda-roupas que o convidou para  um passeio.  Agora poderiam ir onde quisessem, como se tivessem um jatinho particular, só que melhor, muito melhor. 
 Naquele momento Fred imaginou que estava sonhando, mas preferiu não acordar, pois estava ansioso para voar também. Sendo real ou não, os dois garotos não viam a hora de contar a novidade aos pais. 




O monstro do espelho

Era uma vez uma jovem princesa chamada Sarita. Ela era muito vaidosa e orgulhava -se de sua extrema beleza. 
Seu pai, rei de um vasto território queria casá-la. Por isso mandou chamar os príncipes de todos os reinos e ofereceu-lhes um grande banquete, onde sua filha escolheria seu esposo. 
Mas para a surpresa de todos, Sarita recusou cada um dos candidatos, pois para ela nenhum era suficientemente belo. 
Seu pai e também a rainha ficaram muito tristes, mas como não queriam forçar a filha a casar-se, aceitaram sua decisão. 
Naquela noite, antes de dormir, Sarita olhou-se no espelho , mas a imagem refletida não era a da bela moça que costumava ver, mas a de um monstro horrível. 
Abriu com força a porta do seu quarto e correu em disparado em direção ao recinto dos pais. Naquele momento eles a consolaram convencendo-a de que fora só um pesadelo. 
Mas a partir daquela noite, todos os espelhos refletiam para ela a mesma imagem pavorosa. 
A princípio pensou que estava tendo pesadelos constantes, depois que estava ficando louca e por último começou a balbuciar:
- Eu sou a criatura do espelho. Devo ter sido amaldiçoada. 
Nem mesmo as opiniões de todas as pessoas ao seu redor assegurando que ela ainda era a mesma jovem linda fazia-a duvidar de seu pensamento sobre si mesma. 
Sua auto-estima tornou-se como um papel velho e amassado e estava prestes a ser descartada. 
Mas seus pais a amavam tanto que não poderiam perder a filha para sua própria mente. Por isso a levaram ao psicólogo. Mesmo a contra-gosto a princesa ia a cada sessão diária. 
Seu progresso foi lento, mas contínuo e depois de dez anos ela decretou:
-Ainda sou um monstro horrível por fora, mas isso não importa, e sim o que tenho aqui dentro.
E dali em diante seguiu fazendo boas ações. Visitou os pobres, órfãos, viúvas e doentes e os auxiliou, cada um em suas necessidades. 
Uma noite, ao olhar para o espelho, viu a mesma bela princesa de quando tinha quinze anos, apenas um pouco mais velha. E ao lado, o monstro que abraçava sua imagem e depois saía do espelho. Logo imediatamente ele transformou-se num belíssimo príncipe e narrou-lhe sua história. 
Ele havia sido transformado no monstro do espelho por uma bruxa muito má, com quem ele recusou se casar.
Somente poderia ver o monstro, a moça mais fútil de todas. Mas a maldição só poderia ser quebrada se ela deixasse de preocupar-se com a beleza. 
Contada a história , príncipe e princesa se apaixonaram. Mas embora formassem um belíssimo casal, estavam unidos por algo muito mais profundo que nem o tempo ou qualquer eventualidade reveladas num espelho poderia ser capaz de mudar :o amor verdadeiro. 





A nave-tubarão

Era uma vez um peixinho que queria ser tubarão. Apesar de seu tamanho era muito esperto. Um dia teve uma ideia. Foi ao cemitério dos tubarões e entrou dentro de um deles. Aprendeu a manusear todos os seus órgãos e começou a pilotá-lo como a uma nave aquática. Juntou-se a um bando de tubarões e seguiu-o. 
Imitou os trejeitos, hábitos e sons feitos pelos seus novos companheiros. Agora os peixes menores o temiam e os enormes como o que controlava o respeitavam. Começou a sentir-se imbatível! 
Ficou tão semelhante a qualquer um desses peixes grandes que ninguém podia imaginar que alguém como ele estivesse por trás ou melhor, "por dentro disso".
E andou pomposo de água em água desfilando com seu novo corpo. Seu orgulho fez com que se esquecesse de sua origem e família. "Agora eu sou o rei da água. O que mais importa ?"-Pensava.
Mas um dia enquanto saía com seu bando inflando o peito aquático como um boxiador indo para o ringue, viu algo que o abalou:era sua família e estavam fugindo deles. 
Foi aí que o falso tubarão pareceu receber novamente um coração, um transplante ao dominador de quem usurpou a força de presença.
E gritou,  um grito de agitação tão forte que quase o denunciou. 
Mas o desespero não roubou-lhe sua única saída :a inteligência! 
Entrou no coração, nos pulmões e veias da mórbida criatura e todos os órgãos reagiram com destreza incrível. O tubarão- nave agitou com tão grande força sua barbatana que arrastou os tubarões que estavam perto, ferindo-os de forma que não puderam mais mover-se. 
Os demais, que estavam mais próximos de sua família nadaram para longe muito assustados.
E o pequeno peixe pulou da boca do tubarão, como se ele o tivesse cuspido.
Sua família, que assistia tudo paralisada, reconheceu-o. Abraçaram -se  muito contentes. 
Então, o peixinho quebrou  o gelo que uma vez aprisionou seus sentimentos.
-Eu os amo. Me desculpem. Vamos sair daqui! 
E se mudaram para seu novo lar. Um lugar sem tubarões. 


segunda-feira, 25 de abril de 2016















A gansa e o Urubu


Era uma vez uma gansa que gostava de fazer mágicas. Era capaz de desaparecer qualquer coisa que pusesse em suas mãos.
Um dia, estava com muita fome e foi pescar num lago. 
Mas, quando fisgou o primeiro peixe, um urubu a interrompeu antes que suas mandíbulas o provassem.
-Ora, ora, mas se não é a gansa ilusionista.-Disse o Urubu surpreso.
-Sabes o que dizem de mim ?
-Ah, sei sim,,que tens uma mágica incrível!Mas preciso que me mostres algo porque desejo ser mais um de teus muitos seguidores.
-Que queres que eu te mostre?-Perguntou a gansa tranquilamente.
-Teu talento para fazer objetos e coisas desaparecerem.
-Certamente isso é algo corriqueiro para mim.
Mas o Urubu com tom descrente e ousado pediu:
-Então, que proves. Faças desaparecer o peixe que estás prestes a devorar. 
- Mas se assim fizer, não o comerei. 
- Calma, tem muitos peixes aí neste lago. Um só não vai fazer falta.-Retrucou o Urubu astutamente. 
E a gansa querendo manter sua fama de melhor mágica da cidade, assentiu.
Mas o urubu não se conteve e fez o mesmo desafio à gansa com todos os outros peixes do lago. Até que não sobrou mais nenhum. 
A gansa então ficou com tanta, tanta fome que acabou morrendo. 
E o urubu a devorou satisfeito... 


Jony Happy

 Jony era um homem muito feliz. Ele tinha uma bela esposa e duas adoráveis filhas. Seu emprego era o que considerava o melhor do mundo. Enfim, acreditava que tinha todas as coisas de que precisava.
 Por isso vivia sorrindo, o que rendeu-lhe o apelido de "Jony Happy". 
Certo dia ele tropeçou numa pedra. Mas aquela não era uma pedra comum. Ela tinha poderes especiais. Então, ela irritou-se com ele e disse:
-Jony "Jony Happy", esquecestes de pedir-me desculpas.  Sua felicidade me insulta e agride. De hoje em diante não serás o "Jony Happy", mas o "Jony Sad". E lançou-lhe uma purpurina cinzenta, que retirou-lhe suas boas emoções. Assim, Jony ficou muito triste e amargurado.
Desse dia em diante todos os que o viam o estranharam. Ele não era mais o mesmo. Seus olhos opacos e vazios davam-no agora um semblante monótono. 
Um dia, sua esposa e filhas decidiram fazer algo para devolver-lhe a alegria que nem mesmo todo o amor que podiam oferecer parecia capaz de conseguir. 
Elas o levaram para um país miserável em que muitas pessoas morriam diariamente. Nele haviam seres humanos de todas as idades completamente desnutridos tendo como único alimento um pouco de lama. 
Ele caminhou por aqueles desafortunados e abaixando  a cabeça, sentou-se. Estava muito confuso, pois nunca vira antes tanto sofrimento.
Uma criancinha com vestes rasgadas e descalça com uma aparência esquelética aproximou-se. Mas ao contrário do que seria convencional , estava sorrindo.
- Tem comida? Disse a menininha.
Logo ele estava compartilhando pães com aquela pequena. E, juntamente com a mulher e filhas também os distribuiu aos outros necessitados do lugar.
 Depois de seu bom feito , uma pitada de alegria foi sentida em seu âmago. 
 Imediatamente um pó acinzentado saiu do peito de Jony levando toda a sua tristeza.
Agora ele tinha de novo um coração feliz, pois a alegria que resgatou chamava-se gratidão. 

sexta-feira, 22 de abril de 2016


O chá do Vento Oriental

Dois adolescentes, Suellen e Raul conversavam sob a luz da lareira. 
-Estou com medo de pegar na sua mão e o sentimento roubar-me a última sanidade. Disse a moça.
E o rapaz retrucou.
-Se isso for doença não quero ser curado.Deixe-me provar que o que sinto é verdadeiro. 
-A verdade para ti é o que está no presente, mas logo chegará o fim. 
-E eu quero passá-lo contigo. 
- Então prove. 
Aqueles olhares cândidos e perdidos deixaram-se encontrar. 
O barulho surdo da chaleira retornou-lhes a órbita. E foi a garota que falou.
-Eu, eu vou le-var pa pa-ra minha irmã. 
James não era do tipo que permitia ter seu raciocínio engolfado por qualquer emoção, mas naquele momento foi diferente. 
- Ela ficará bem- Disse para a moça enquanto a abraçava. 
-Claro. Respondeu a jovem sem jeito.
Suellen entregou uma xícara de chá à irmã Rute que fora acometida de pneumonia.
Em outras circunstâncias aquela seria uma doença facilmente curável, mas eram refugiados da guerra. Por isso o chá era a única coisa que podia oferecer a moribunda. 
Semanas se passaram e para a alegria dos jovens, a moça foi curada. 
Mas ela não era mais a mesma. Seus olhos estavam frios e distantes e começou a ser muito agressiva. 
Não entendiam o que estava acontecendo, mas nada parecia acalmá-la. Pensaram que aquele poderia ser algum efeito inusitado da guerra.
E numa noite, enquanto dormiam a menina fugiu do acampamento. 
Na manhã seguinte, percebendo a falta dela saíram à sua busca.
Mas ao redor deles muitos mísseis e bombas disparadas fizeram-nos recuar a uma caverna. 
Dentro dela morava uma velhinha. Começaram a contar a  história sobre o sumiço da menina. Mas no momento em que mencionaram o chá, a velha levantando-se de uma pedra agitada esbravejou:
- ELA TOMOU O CHÁ DO VENTO ORIENTAL? 
-Sim-Respondeu a moça trocando olhares desconfiados com o rapaz. Por quê? 
-Voces não conhecem a lenda? 
-Lenda? Raul interpôs -Que lenda?
 Então a velha explicou que se alguém beber desse chá durante a guerra se tornará um monstro que engolirá toda a cidade. 
De repente avistaram um grande monstro ao longe. 
Mas o amor de Suellen por sua irmã Rute era tão grande que sem pensar começou a correr ao seu encontro. O rapaz foi atrás da moça que amava. E a velha foi atrás dos dois. 
Quando a velhinha se aproximou, já estavam de frente à criatura. Ela então atirou-lhes uma capa cobrindo-se também com ela, cujo efeito tornava-os invisíveis. 
-Tomem essa poção.- Disse a senhora-  Precisam fazê-la beber antes que o sol abrace o poente senão ela nunca mais sairá dessa forma e destruirá toda a cidade. 
Dito isto a velha sumiu deixando os dois perplexos. 
Mas num impulso cavalheiresco Raul despiu-se da capa com o vidro da poção em uma das mãos. 
-Vamos, venha me pegar. 
O monstro virou-se para ele instintivamente com grunhidos violentos e passos largos. 
E o rapaz levantou a poção e atirou-o com força sobre a boca da coisa no momento em que ela se distendeu para devorá-lo. 
Logo o monstro voltou a ser a moça. 
E assim aquela família, um amor juvenil e toda uma cidade foram salvos.