A Lustra
Lina era uma jovem diferente. Tinha apenas quinze anos e seus cabelos eram completamente brancos. Mas fora isso não havia nada nela que a identificava como uma pessoa de mais idade. Seu rosto, corpo e estatura eram completamente normais.
Para esconder seus cabelos testava todas as tintas, desde as mais naturais às mais caras com diversos profissionais de beleza, mas para a surpresa de todos, quase que imediatamente após a aplicação da tinta, os cabelos voltavam a ser brancos novamente.
Foi ao médico diversas vezes para descobrir qual era sua doença. Mas nada, nenhum diagnóstico era conclusivo.
Como se não bastasse , seus colegas de escola ainda faziam questão de lembrá-la diariamente o quanto ela era estranha e parecia velha e deram-na um apelido: "velhota".
Sentia-se incompreendida e começou a afundar-se num oceano de incertezas.
- Quem sou eu? Por que sou tão estranha? Perguntou um dia aos prantos entrando no carro onde sua mãe a esperava na saída da escola.
Mãe de uma moça tão singular, Salete já estava acostumada a consolá-la desde que começou a tomar consciência, quando seus cabelos de tom prateado já a tornavam diferente.
-Filha, é só uma cor de cabelo. Nada de mais. - Era o que mais dizia.
Mas dessa vez, foi diferente. Apenas olhou para a garota com o carro ainda parado e disse:
-Quero te mostrar uma coisa. Vamos.
Dito isto, ligou o carro e partiu.
Não disse mais nada e a garota também não teve coragem de perguntar.
Assim,a garota deixou-se ficar atônita em seus pensamentos ansiosos olhando pelo vidro da janela a paisagem móvel que assumia uma forma a princípio urbana e depois rural.
Já estavam a quinhentos quilômetros do ponto de partida quando a moça percebeu que o carro parava.
A mãe agora, sem olhá-la levou as mãos a cabeça e tirou dela uma peruca que escondia longas madeixas prateadas.
-Mãe? Você também?... Como?
Tantas perguntas passaram- se na mente da garota, mas antes que ela conseguisse estruturá-las conexamente Salete olhou para a filha e disse:
-Sim, sou diferente como você. Mas não podia contar. Eles me pediram.
-Quem?
-Os Lustros. Pertencemos a eles. Temos o seu sangue desde os meus tetravós.
De acordo com o código dos Lustros, ninguém pode saber o que é até os dezesseis anos. Não queria contar porque tive medo de não entender, mas não tive outra escolha. Não suportei mais vê-la sofrer.
- Mãe, o que está dizendo? Quem são os Lustros?
-Venha. - disse a mãe estalando os dedos e provocando uma fumaça que cobriu as duas. Veja quem somos.
E caíram numa cidade onde todos tinham os cabelos brancos.
Lina parecia não acreditar no que via. De repente não era mais o ET do grupo, mas apenas mais uma e gostou da sensação.
Sua mãe continuou a explicação
-Nossos cabelos não são brancos por acaso. Temos o poder da Luz que nos permite viajar à anos de distância.Seu pai também é um Lustro. Podemos viajar no tempo, chegar onde quisermos para aumentar nossa sabedoria. E a luz nos torna imortais. Quando chegar a minha idade, não vai mais envelhecer, filha.
Um fio de nosso cabelo é capaz de curar qualquer doença e ferimento. A cura para todos os males físicos está em nós. Mas não podemos mudar o futuro da humanidade, apenas nos comunicar com os homens soprando em seus ouvidos para que eles realizem as curas.
-Mas se somos assim tão especiais precisamos deixar que nos vejam.
- Não podemos. O homem não entenderia. Nos veriam como mutantes, tentariam nos destruir e sairiam machucados. Não queremos isso.
-Mas não quero voltar pra lá então. Aqui é meu mundo.
-Querida, a melhor escolha para nós é voltar. Deixem que te vejam e agora que já sabe a verdade, deixarei que me vejam também. Se não nos aceitarem, não mudará o fato de quem somos e isso é o que importa.
Mas não te desanimes. Alguns te aceitarão e estes também receberão no devido tempo o poder da luz.
As duas então voltaram para a Terra como um raio e a família prateada brilhou mais intensamente.
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