O chá do Vento Oriental
Dois adolescentes, Suellen e Raul conversavam sob a luz da lareira.
-Estou com medo de pegar na sua mão e o sentimento roubar-me a última sanidade. Disse a moça.
E o rapaz retrucou.
-Se isso for doença não quero ser curado.Deixe-me provar que o que sinto é verdadeiro.
-A verdade para ti é o que está no presente, mas logo chegará o fim.
-E eu quero passá-lo contigo.
- Então prove.
Aqueles olhares cândidos e perdidos deixaram-se encontrar.
O barulho surdo da chaleira retornou-lhes a órbita. E foi a garota que falou.
-Eu, eu vou le-var pa pa-ra minha irmã.
James não era do tipo que permitia ter seu raciocínio engolfado por qualquer emoção, mas naquele momento foi diferente.
- Ela ficará bem- Disse para a moça enquanto a abraçava.
-Claro. Respondeu a jovem sem jeito.
Suellen entregou uma xícara de chá à irmã Rute que fora acometida de pneumonia.
Em outras circunstâncias aquela seria uma doença facilmente curável, mas eram refugiados da guerra. Por isso o chá era a única coisa que podia oferecer a moribunda.
Semanas se passaram e para a alegria dos jovens, a moça foi curada.
Mas ela não era mais a mesma. Seus olhos estavam frios e distantes e começou a ser muito agressiva.
Não entendiam o que estava acontecendo, mas nada parecia acalmá-la. Pensaram que aquele poderia ser algum efeito inusitado da guerra.
E numa noite, enquanto dormiam a menina fugiu do acampamento.
Na manhã seguinte, percebendo a falta dela saíram à sua busca.
Mas ao redor deles muitos mísseis e bombas disparadas fizeram-nos recuar a uma caverna.
Dentro dela morava uma velhinha. Começaram a contar a história sobre o sumiço da menina. Mas no momento em que mencionaram o chá, a velha levantando-se de uma pedra agitada esbravejou:
- ELA TOMOU O CHÁ DO VENTO ORIENTAL?
-Sim-Respondeu a moça trocando olhares desconfiados com o rapaz. Por quê?
-Voces não conhecem a lenda?
-Lenda? Raul interpôs -Que lenda?
Então a velha explicou que se alguém beber desse chá durante a guerra se tornará um monstro que engolirá toda a cidade.
De repente avistaram um grande monstro ao longe.
Mas o amor de Suellen por sua irmã Rute era tão grande que sem pensar começou a correr ao seu encontro. O rapaz foi atrás da moça que amava. E a velha foi atrás dos dois.
Quando a velhinha se aproximou, já estavam de frente à criatura. Ela então atirou-lhes uma capa cobrindo-se também com ela, cujo efeito tornava-os invisíveis.
-Tomem essa poção.- Disse a senhora- Precisam fazê-la beber antes que o sol abrace o poente senão ela nunca mais sairá dessa forma e destruirá toda a cidade.
Dito isto a velha sumiu deixando os dois perplexos.
Mas num impulso cavalheiresco Raul despiu-se da capa com o vidro da poção em uma das mãos.
-Vamos, venha me pegar.
O monstro virou-se para ele instintivamente com grunhidos violentos e passos largos.
E o rapaz levantou a poção e atirou-o com força sobre a boca da coisa no momento em que ela se distendeu para devorá-lo.
Logo o monstro voltou a ser a moça.
E assim aquela família, um amor juvenil e toda uma cidade foram salvos.
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