sexta-feira, 22 de abril de 2016


O chá do Vento Oriental

Dois adolescentes, Suellen e Raul conversavam sob a luz da lareira. 
-Estou com medo de pegar na sua mão e o sentimento roubar-me a última sanidade. Disse a moça.
E o rapaz retrucou.
-Se isso for doença não quero ser curado.Deixe-me provar que o que sinto é verdadeiro. 
-A verdade para ti é o que está no presente, mas logo chegará o fim. 
-E eu quero passá-lo contigo. 
- Então prove. 
Aqueles olhares cândidos e perdidos deixaram-se encontrar. 
O barulho surdo da chaleira retornou-lhes a órbita. E foi a garota que falou.
-Eu, eu vou le-var pa pa-ra minha irmã. 
James não era do tipo que permitia ter seu raciocínio engolfado por qualquer emoção, mas naquele momento foi diferente. 
- Ela ficará bem- Disse para a moça enquanto a abraçava. 
-Claro. Respondeu a jovem sem jeito.
Suellen entregou uma xícara de chá à irmã Rute que fora acometida de pneumonia.
Em outras circunstâncias aquela seria uma doença facilmente curável, mas eram refugiados da guerra. Por isso o chá era a única coisa que podia oferecer a moribunda. 
Semanas se passaram e para a alegria dos jovens, a moça foi curada. 
Mas ela não era mais a mesma. Seus olhos estavam frios e distantes e começou a ser muito agressiva. 
Não entendiam o que estava acontecendo, mas nada parecia acalmá-la. Pensaram que aquele poderia ser algum efeito inusitado da guerra.
E numa noite, enquanto dormiam a menina fugiu do acampamento. 
Na manhã seguinte, percebendo a falta dela saíram à sua busca.
Mas ao redor deles muitos mísseis e bombas disparadas fizeram-nos recuar a uma caverna. 
Dentro dela morava uma velhinha. Começaram a contar a  história sobre o sumiço da menina. Mas no momento em que mencionaram o chá, a velha levantando-se de uma pedra agitada esbravejou:
- ELA TOMOU O CHÁ DO VENTO ORIENTAL? 
-Sim-Respondeu a moça trocando olhares desconfiados com o rapaz. Por quê? 
-Voces não conhecem a lenda? 
-Lenda? Raul interpôs -Que lenda?
 Então a velha explicou que se alguém beber desse chá durante a guerra se tornará um monstro que engolirá toda a cidade. 
De repente avistaram um grande monstro ao longe. 
Mas o amor de Suellen por sua irmã Rute era tão grande que sem pensar começou a correr ao seu encontro. O rapaz foi atrás da moça que amava. E a velha foi atrás dos dois. 
Quando a velhinha se aproximou, já estavam de frente à criatura. Ela então atirou-lhes uma capa cobrindo-se também com ela, cujo efeito tornava-os invisíveis. 
-Tomem essa poção.- Disse a senhora-  Precisam fazê-la beber antes que o sol abrace o poente senão ela nunca mais sairá dessa forma e destruirá toda a cidade. 
Dito isto a velha sumiu deixando os dois perplexos. 
Mas num impulso cavalheiresco Raul despiu-se da capa com o vidro da poção em uma das mãos. 
-Vamos, venha me pegar. 
O monstro virou-se para ele instintivamente com grunhidos violentos e passos largos. 
E o rapaz levantou a poção e atirou-o com força sobre a boca da coisa no momento em que ela se distendeu para devorá-lo. 
Logo o monstro voltou a ser a moça. 
E assim aquela família, um amor juvenil e toda uma cidade foram salvos.

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