quinta-feira, 21 de abril de 2016






Âmbar, o menino dragão

Num rigoroso inverno nevante, jovens universitários sobrevoaram a região visando pesquisá-la para um artigo da faculdade. Seus nomes:Lúcio, Ane e Rosa. 
Lúcio era o piloto, Rosa sua irmã e Ane, amiga dos dois. 
Porém,aconteceu algo que não haviam planejado. Próximo ao casarão, o avião perdeu a direção, sendo necessário que os tripulantes se ejetassem. 
O paraquedas era um objeto completamente estranho para as meninas. Só o conheciam pela televisão e não sabiam como usá-lo. Mas seguindo as instruções do piloto, pousaram próximos uns dos outros e em terra firme. Depois de adquirirem a percepção de que estavam vivos, gritos de alívio e abraços infiltraram-se na cena. 
O ar do local estava insuportavelmente gélido e monótono. Onde quer que olhassem, apenas árvores como noivas vestidas com a neve, dançaando ao ritmo do uivo do vento. 
Ficaram por alguns minutos apenas olhando para o céu e ao redor tentando capturar a compreensão do que havia acontecido. E foi Ane quem quebrou o silencio:
-Onde estamos? 
Lúcio adiantou-se:
-Calculo que pela força do vento que nos forçou a descer e pela orientação do painel até o momento do pouso, devemos estar a Oeste de nossas casas. Não tem como saber exatamente em que distância estamos. Mas é melhor irmos andando. Precisamos procurar algum abrigo. 
E os três andaram sobre o chão nevado até que anoiteceu. 
-Ok, ok, respira -disse mais para si mesma Rosa-Não sabemos onde estamos e nem como sair daqui não é isso? 
Mas Lúcio tentou acalmá-la. 
-Tudo bem , só precisamos pedir ajuda. 
-Pedir ajuda, mas para quem? -insistiu Rosa-Estamos sozinhos. 
-Não estamos não-respondeu Ane apontando para algum lugar no alto. 
Mas Rosa continuou retrucando. É claro que est... Mas conteve-se ao seguir o olhar da amiga. 
-Uau! Exclamou Rosa admirada. 
No alto de uma montanha próxima, havia um castelo gigante, incrivelmente belo e medieval. Era iluminado por seus vértices através de tochas enormes. 
-Precisamos entrar nele e ver se alguém pode nos ajudar-decidiu o jovem. 
E as duas concordando o seguiram de braços dados e com as pernas tremendo.
Próximo ao portão, que fora claramente derrubado, o capim do jardim foi revelando-se um grande matagal abastado, cono se estivesse há anos abandonado. Enquanto caminhavam, alguma coisa se mexeu. 
Pshii-pediu silêncio para as garotas fazendo-as parar. 
E caminhou lentamente até a origem do movimento. 
O medo e a curiosidade instalaram-se ali.
-Beeeeheee... -Era uma ovelha balindo que correu amedrontada ao tornar-se visível. 
-Hahaha-mesclou-se três risos. 
Ainda estavam rindo e conversando quando abriram a porta do castelo. 
Treeemm-dobradiças enferrujadas denunciaram sua falta de trabalho. 
Na entrada do Castelo, um luxuoso salão com estátuas de mármore, móveis de madeira antiga maciça e estofados sóbrios de refinados tecidos. As cortinas das janelas monumentais participavam do casamento das árvores e dançavam sem parar. 
Ao fundo, uma chaminé acesa e os jovens pararam para apreciar tudo aquilo. 
Foi assim que um rapazinho vestido como um príncipe europeu do seculo XIV aproximou-se. 
-Entrem, entrem. Moro aqui só e há muito tempo não recebo visitas. 
O trio entreolhou-se. 
Mas o menino entendeu a reação. 
-Eu sei porque estão espantados. Querem saber onde estão meus pais. Por que todos me perguntam isso? Eu não tenho pais. 
Foi Lúcio quem quebrou o gelo
-Nós só queremos usar o telefone. Podemos? 
-Eu não tenho um telefone. 
-Então pode ser a internet-acrescentou Lúcio. 
-Eu também não tenho internet. Respondeu o anfitrião. 
-Mas como alguém consegue hoje em dia fic... - retrucou indignada Rosa, sendo interrompida de imediato por Ane que falou em seguida:
-Nós entendemos. É que nosso avião caiu e estamos perdidos. Desejamos voltar para casa. 
-Mas onde moram? Perguntou o garoto. 
-Em uma cidade chamada Gledis. Nossas famílias devem estar preocupadas- Respondeu Lúcio. 
E como um homem maduro, o rapazinho disse:
-Os senhores podem acomodar-se aqui esta noite e amanhã eu os ajudarei a encontrar o caminho de casa. Meu mordomo Ulisses irá conduzi-los aos seus aposentos onde receberão um jantar reforçado. 
Um homem alto e magro dirigiu-se a eles, acenando educadamente
-Está bem, agradecemos muito-assentiu Lucio. 
-Dormir aqui? Disparou Rosa. 
E Lucio abraçando a moça sussurrou em seu ouvido:
-Só aceite. 
Mesmo com olhos de protesto, Rosa decidiu seguir os amigos até porque deixando a razão de lado, achou ótimo a ideia de se alimentar e ter uma cama macia para dormir. 
Depois de encherem seus estômagos com tanta variedade de comida que nunca haviam provado e que era sumamente deliciosa, tiveram dificuldades para dormir. A expectativa de voltarem para casa no dia seguinte os deixava ansiosos.
Rosa e Ane dividiram um magnifico quarto no segundo andar e Lúcio ocupou um no terceiro. 
Ao amanhecer, Ane foi a última a descer as escadas para se juntar aos outros dois que conversavam num tom que ela pôde ouvir:
-Mas ele disse que nos ajudaria-disse Lúcio para Rosa. 
Ao que a amiga retrucou:
-Ele, ele quem? Nós nem sabemos quem é ele? E se não for confiável? 
Mas o amigo replicou:
-Até agora pudemos confiar nele, não foi?
 -É mas e se ele... continuou Rosa, mas foi interrompida por Ane que até então parecia nem ter sido notada. 
-Hei, hei, gente não discutam, por favor e falem baixo. As paredes podem... vocês sabem. Podemos estar sendo vigiados. 
Lúcio pensou por um instante e retomou:
-Está certo. Não vamos esperar ninguém. Vamos. Chegamos até aqui sozinhos e é assim que voltaremos. 
As amigas olharam-se com cumplicidade e acompanharam o rapaz. 
Passaram pelo portão e por todo o Jardim e ninguém os impediu.Um ligeiro sol ameaçou descortinar-se das nuvens, mas foi alarme falso. 
O ar frio ainda tentava congelar seus pulmões, mas eles prosseguiram. Não sabiam novamente para onde estavam indo, mas decidiram caminhar em linha reta. 
Depois de algumas horas, algo muito estranho aconteceu. Por cima de uma montanha avistaram um incêndio. 
As garotas quiseram se aproximar um pouco porque seus pés estavam congelando. Mas o rapaz achou perigoso e pediu que não fôssem, mas que se dessem as mãos para se aquecerem. 
Em seguida, um grande dragão de cor âmbar saiu de trás da montanha vindo para a direção deles.
Assustados, soltaram as mãos e iniciaram uma fuga rápida correndo por todas as direções. 
E, como uma máquina de recolher entulhos, o grande animal agarrou com suas patas ossudas cada um dos jovens pondo-os em sua cauda e decolou. 
-SOCORRO... 
Vozes distintas imploraram. 
Mas o dragão parecia ignorá-los. Estava completamente decidido a seguir seu percurso. Foram ganhando altitude até que abaixo tornou-se apenas uma mancha branca. 
O vento parecia ser mais frio lá de cima. 
Enfileirados, seguraram tão firme a pele do seu captor até suas mãos ficarem doloridas. 
-Nao tenho mais forças. Acho que vou soltar. Confessou Ane. 
-Nãaao-fizeram um coral os outros dois. 
-Aguenta firme. Vamos ficar bem. Disse Lúcio tentando ele mesmo convencer-se. 
Para onde estavam indo? O Dragão iria comê-los ou queimá-los quando chegassem ao destino? Foram questões silenciosas que serpenteavam suas mentes. 
De repente, a mancha branca foi ganhando outras cores que tornaram-se cada vez maiores. Foi ai que perceberam que estavam descendo. 
E, com uma elegância de pluma, o animal pousou. 
Mas os três permaneceram parados, não ousando descer ou dizer nada. 
E o animal fez o mesmo. Somente fazendo um barulho semelhante a relinchar de vez em quando. 
Depois de minutos em silêncio, foi Rosa quem falou:
-Gente, vamos descer. Olhem,é Gledis. 
-Nao sei-respondeu Ane
-Não sabemos se o fato de ele não mexer seja uma armadilha. - Ponderou o rapaz.
-Se ele quisesse nos comer já teria feito. -interpôs Rosa. 
-Mas quem sabe não parou porque esteja ferido? -Disse Ane. 
-É, mas precisamos descobrir. Falou Lúcio decidido enquanto descia do animal. 
-O que está fazendo? Quis saber Ane. 
-Nao Lu, isso é muito Peri... 
Mas Lucio a interrompeu:
-Vou tentar atrai-lo para algum outro lugar. E assim saberemos se é uma armadilha, se está ferido ou quem sabe dormindo? 
-NÃO-pediu a irmã-por favor Lúcio. Pense nos nossos pais. 
-Precisamos tentar. -Encerrou Lúcio enquanto se dirigia para a frente da criatura. -Fiquem aí, se eu precisar me deem cobertura. 
Foi então que ficou frente a frente com aquele estranho. 
-Ei, bichano, vem me pegar. -provocou o rapaz correndo em zigue - zague. 
Não houve reação. 
Mas Lúcio insistiu:
-Vem, vem me pegar. Por que não se levanta seu monstro cuspidor de fogo? 
Mas o animal continuou como uma pedra, exceto por seus grandes olhos verdes que miravam o rapaz. 
De frente e parado, o dragão parecia muito mais assustador. Suas narinas pareciam cavernas flamejantes prontas a laçar alguém para seu interior, sua boca monstruosa lembrava-lhe a entrada de um trem fantasma. Seu tamanho fez o rapaz pensar que numa luta contra um tiranossauro rex, ele certamente levaria vantagem. 
Mas a criatura assim, permanecendo imóvel e sem reações, criou certa dúvida sobre isso.
De repente, o animal falou:
-Podem ir. 
As meninas se abraçaram e o rapaz arregalou os olhos. 
Não estavam acreditando. Aquela criatura medonha e tão temida era na verdade um animal dócil e que falava? 
Como podia ser? 
Mas o dragão continuou:
-Vocês queriam voltar para casa e seu pedido foi atendido. 
Dessa vez foram os três que ficaram paralisados. 
Mas o grande animal percebendo seus pensamentos, colocou sua cauda próximo a Lúcio. E as moças desceram, abraçando o rapaz. 
-Eu sei porque estão assim. Desculpe-me. Permitam apresentar-me. Me chamo Âmbar, o grande Dragão dos desejos. 
Ontem vocês me visitaram e me fizeram um pedido, por isso os trouxe para casa. 
E foi Rosa quem tomou coragem:
-Entao você.. 
Mas foi interrompida por Âmbar
-Sim, sou o garoto que conheceram. Sou um dos únicos sobreviventes dragões a sobreviver numa guerra. Fui escondido por minha mãe, por isso fui salvo. Um dragão só pode ser morto por outro.Depois da guerra, não havia mais dragões para matar-me por isso tornei-me imortal. 
Mas por que você se transforma em garoto? Perguntou Lúcio? 
-Sou como toda minha família era. Dentro do Palácio do Fogo sou humano. Fora, sou um dragão dos desejos. 
-E o seu mordomo? Quem é ele? Perguntou Ane curiosa. 
Meu tio Ulisses, líder do bando que destruiu minha família. Por inveja, conspirou com os inimigos para ocupar o Reino em lugar do rei, meu pai.
Depois da chacina, achei que tivesse sido o único sobrevivente, mas Ulisses apareceu no Castelo onde eu estava. Ele tentou matar-me, mas eu desejei que ele perdesse a memória. E, foi o que aconteceu. Desde então, ele me serve para ajudar as pessoas a realizarem seus desejos. 
-Que história! -Exclamou Rosa
-Surpreendente-completou Ane
-Mas agora você não está mais sozinho, pois desejamos que venha sempre nos visitar. Finalizou Lúcio com sinceridade. 
E os jovens, depois de despedirem-se do novo amigo, voltaram para suas casas. 
Uma semana depois, na faculdade... 

Um artigo foi apresentado por Lúcio, Ane e Rosa com o tema: Âmbar :O menino dragão. 

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