sexta-feira, 16 de outubro de 2015






Sonheta

Pesadelis era uma Sucuri de oito metros que vivia na fazenda do Senhor Ricaço. Uma cobra muito temida.Muitas vezes tentaram matá-la, mas não conseguiram.
Um dia, uma menininha chamada Sofia estava passeando na fazenda que era de seu avô e avistou a tal cobra.
-Argh, socorrooo, uma coobraa
Pesadélis foi atrás, enquanto Sofia correu desesperada. Até que, de repente, galhos retorcidos do chão fizeram a menina tropeçar e cair. Ela virou-se para a cobra, deitada, erguendo-se apenas pelos cotovelos e a cabeça. Os olhos inflexíveis aterrorizados pelo réptil que sibilava enquanto armava o bote. Quando a Sucuri levantou-se cerca de um metro e meio pulou sobre a menina, atacando um grande lobo salivante que se encontrava há dois metros.
Logo, a notícia de como a menina havia sido salva espalhou-se. Pesadelis não era mais o pesadelo da família Ricaço que passou a acolhê-la entre os gados. Até deram-na um novo nome: Sonheta.

A cobra tornou-se o animal de estimação da família, que retribuía adquirindo novos hábitos a começar pela alimentação vegetariana a base de folhagens. Seu bote servia agora apenas para alimentar-se de relva nos locais mais afastados e para proteger os Ricaço.


O brilho maior


Havia uma sábia Estrela que brilhava mais forte que todas as outras estrelas da constelação.
Um dia um meteoro que passava admirou imensamente seu brilho e a fitou. Logo, iniciou-se um diálogo entre eles:
-Estrela, oh, sábia Estrela tu que és assim tão brilhante, queres dar-me um pouco de teu brilho?
-Sim, quero.Estava mesmo esperando que me pedisse. Mas, por que razão desejas brilhar?
-Para que eu possa ser como tu és, tão admirada na Terra.
-Se quiseres um brilho semelhante, deves seguir os três mistérios das estrelas.
Dito isto, a Estrela brilhante virou-se para iluminar o outro lado.
-Não sei nada sobre isso.
-Por isso não brilhas.
-Como assim?
-Somente o detentor do brilho das estrelas pode receber seus mistérios em plenitude. O brilho antecede esse conhecimento e não o contrário.
-Ah, então estás me dizendo que preciso brilhar antes de saber como? Não compreendo....
-Se buscares dentro de si mesmo, já saberás como e o restante te será completado após os passos necessários.
-Por favor, diga-me, quais são?
-Estás mesmo pronto?
-Sim, faço qualquer coisa para ter um brilho como o teu.
-Certo. Mas lembre-se: O cumprimento de uma etapa será prerrogativa para o conhecimento da etapa seguinte. Ao completares todas elas, receberás mais luz até o dia perfeito, mas se não...-A estrela fez uma pausa- nunca receberás o brilho que desejas.
O meteoro concordou prontamente dando voltinhas animadas em meio a oportunidade recebida
-Sim, sim, eu aceito.Eu quero, eu quero muito esse brilho maior.
-Está bem. Primeiro-E fixou os olhos no meteoro- precisas saber que não deves desejar usar teu ­brilho ­-­para si mesmo, mas para outros que necessitarem dele. Agora tera início o teu teste.
O meteoro saiu pensativo, pois lembrou-se que anteriormente desejava o brilho para que pudesse tornar-se popular aos que o vissem da Terra. Fez uma oração para que seu coração se transformasse.
Dias depois, ouviu pelo satélite de onde estava, que a Terra estava enfrentando um sério problema de falta de luz devido a escassez de água em muitos lugares. Logo, foi tomado de compaixão pelas pessoas, pois parecia-lhe uma tormenta a escuridão.
Desceu um pouco para ficar mais perto da Terra e reunindo o máximo de intensidade que conseguiu, tentou projetar sua pouca luz nos lugares que estavam escuros. Assim, a luz emanada sobre ele recrudesceu imediatamente, ampliando a luz na Terra e fazendo mais felizes seus habitantes.
Sua alegria foi imensa. Agora ele não era mais meteoro, mas uma estrela, que irradiava menos pela luz que a envolvia quanto pelos que a recebiam por seu intermédio.
Assim, a sábia Estrela retornou.
-Já deves saber que passastes na primeira etapa. Parabéns! Agora deves completar a segunda que é a mais difícil para todos. Sim, estrela, poucos são os que passaram por ela...
-E qual é?- indagou com pesar pelos que não foram aprovados.
-Sem se lembrar de que és uma estrela, deves passar pela água e pelo fogo e subir com perseverança a escada para o céu. Não te será fácil, mas possível se seguires o Mestre das Estrelas.
-E como posso conhecê-lo?
-Duas luzes da mente te apontarão o caminho. Agora vá, desça e receberás um acréscimo de glória e luz.
A estrela então, obedecendo à sábia Estrela, que ensinava-lhe através das duas luzes, entrou na água e depois no fogo e começou a subir as escadas para o céu novamente. Percebeu que, apesar de seu imenso brilho, a tarefa de subir não era fácil e à medida que fazia, por vezes ficava exausta. Quando via estrelas tentando subir, desistindo da escalada ou mesmo com outra necessidade, as duas luzes de sua mente a forçavam a ajudá-las, auxiliando-as e confortando-as.
Passara-me muitos anos, até que algo aconteceu: A estrela recebeu uma projeção maior de luz e cresceu, sendo levada de volta ao céu tornando-se a Lua.
E a sábia Estrela retornou, dando-lhe uma grande festa.
Agora- disse,em meio a um sorriso de encorajamento -basta que desvendes o terceiro e último mistério para que possas receber o brilho semelhante ao meu. Quem é o mestre das Estrelas?
-É o Sol, que és tu mesmo meu Senhor -e prostrou-se aos seus pés-
-Está certo. E por haveres me conhecido, receberás o teu galardão,que preparei para ti desde antes da fundação do mundo.
E foi assim que um simples meteoro se tornou um Sol...







A árvore da consciência


Havia um jovem que desejava deixar sua família e imigrar para outro país. Seus pais viviam brigando e seu irmão mais novo parecia sempre querer atenção que ele achava que não poderia dar. Tencionava deixar tudo isso para trás e iniciar uma nova vida.
Assim, pôs-se ao mar num pequeno barco que conseguiu comprar com suas reservas que fizera por anos de trabalho.
Depois de muitos dias, o barco, já muito velho sofreu um grave vazamento do motor. Por isso, parou numa pequena ilha para tentar consertá-lo.
Assim que desembarcou, estremeceu perante o improvável:
-Tony,Tony, o que desejas?
Assustado, o rapaz olhou ao seu redor e não viu ninguém. Sabia que estava sozinho naquela ilha abandonada.
-Tony, Tony, o que desejas?-Tornou a ouvir.
A voz parecia um vento calmo para sua alma em turbilhão, mas começou a desconfiar que estava ficando louco, pois constatou que de fato não havia ninguém além dele e a natureza exuberante.
E, na terceira vez, entendeu quem era sua interlocutora, pois foi denunciada pelas batidas das asas dos passarinhos que se abrigavam nela.
Era a voz de uma árvore.
-v-vvocê fala?
-É claro que eu falo.Você também não fala?
-É claro que eu falo, mas eu sou...
-Um ser humano?-Cortou-lhe a árvore
-Sim,é, quero dizer...- o jovem ficara agora desconcertado
-Tudo bem, não se preocupe com isso. Você talvez nunca tenha visto uma árvore falar, mas porque nunca quis de fato ouvir.
Agora parecia demais para sua pobre mente.Tony virou-se para o barco e decidiu ignorar o fato de ter ouvido e conversado com uma árvore. Talvez-pensou ele-eu esteja apenas sofrendo de alguma paranóia ocasionada por estar sózinho a tantos dias.
E, começou a trabalhar no conserto do barco.
-Tony,mesmo que ignores, eu estou aqui.
-AGORA JÁ CHEGA-rosnou para si mesmo.
-Tony, não tenha medo...
Mais para acabar com aquele monólogo para seus sentidos do que para dar-lhe vazão, cedeu.
-Tudo bem então, o que desejo, o que desejo?-e virou-se para a árvore despejando uma resposta simples, mas abrangedora- desejo ser feliz.
-Seu pedido será concedido meu jovem
-O que?-e assustou-se ao ver que o cenário da ilha mudara completamente. Ele, de alguma forma misteriosa estava de volta a sua casa. Seus pais correram para abraçá-lo, assim como o irmãozinho, mas ele não retribuiu-lhes.
Entrou contrariado em casa. Ficou por dias trancado no quarto saindo somente para o necessário. Aumentava o som de músicas ensurdecedoras quando a família caia em algum conflito.
Certa noite, enquanto o pai demorava para chegar do trabalho, ouviu a mãe chorando baixinho. Abriu a porta vagarosamente.
-Mãe, ele vai voltar.
-Não é por ele que estou chorando filho. Ele disse que ia se atrasar hoje.
-Ah não? É por que então?
-É por você.
Ver a mãe assim, tão triste por ele, deixou-lhe muito triste e, de repente compreendeu o que acontecera na ilha. Chorou.
-Mãe, me desculpe, me desculpe - e abraçou a mãe fortemente.
Quando o pai chegou e seu irmãozinho acordou para recebê-lo, abraçou-lhes também. Pediu perdão a todos por toda a falta de atenção e expressou seu profundo amor por cada um.
Depois daquele dia ele mudou completamente. Estava mais dócil, receptivo e atencioso com a família. Seus pais nunca mais brigaram- por isso enxergou que ele mesmo era o motivo da briga deles- e seu irmãozinho nunca mais reclamou de falta de atenção.
Agora ele estava muito feliz em casa, pois tornara sua família feliz.­
E esse foi o milagre que aquela árvore fizera por ele.