A menina-pão
Brenda era um pãozinho de cachorro-quente, se é que uma massa assada poderia ser considerada um alguém. Mas o fato é que ela era um pão e se via como uma menina.
Não tardou para a menina- pão ver-se numa barraca de hot dogs em meio a seus companheiros de batalha.
A vida para um pão ao contrário do que se parece não é fácil. Eles vivem apreensivos com medo de serem devorados a qualquer momento por uma criança em fase de crescimento, um mendigo esfomeado ou um gladiador qualquer. Pelo menos é como eles chamam os gordos salivantes. Essa última categoria para eles é a pior porque quando eles o tomam nas mãos, a guerra já foi vencida. Não há tréguas, nem esperança. Apenas uma morte rápida e ingrata.
Brenda estava aflita. Seus dias de glória como um pãozinho inofensivo no calor interno de um saco plástico com a família estavam se extinguindo.
Agora estava sozinha. Havia sido embrulhada num saquinho que cabia só ela. Sua nova casa era um campo de concentração, branco e transparente, como um espírito deveria ser, pensou.
Em meio as suas reflexões reparou que um homem, de meia idade portador de uma barriga saliente e olhos preguiçosos era o vendedor dos cachorros-quentes. Ele, culpado da chacina de milhares de pãezinhos inocentes seria também o seu carrasco.
Foi ai que um homem mais jovem e magro e que parecia pertencer a categoria dos esfomeados pediu um cachorro-quente.
Vários "não me escolha"gritaram dentro da cabeça da pãozinha.
E o carrasco foi tomar um pão encolhido rumo a seu destino certo.
Mas o universo ouviu um:"me escolha" e conspirou contra a menina que não conhecia a teoria que o universo não conhece o não.
Acontece que o homem magro deve ter sido o autor dessa teoria porque foi nesse exato momento que ele disse ao vendedor:
-Eu quero aquele ali-apontando para a menina-pão.
Com a salsicha e a maionese nas mãos do matador, pronto! Seu destino estava definido. Mais um pão com o futuro ceifado.
Nunca ouvira falar antes que algum outro pão tivesse vencido a luta contra qualquer humano.
Mas ela não poderia morrer assim, não sem antes lutar, não tão jovem, não como uma covarde, não...
-Nãaaaooo-ouviu-se os gritos da pãozinha.
Despiu-se do saquinho dos pães moribundos. Não precisava dele. Nunca precisou. E antes que o vendedor a agarrasse, deu um belo salto da barraca, escorregando para a liberdade.
Logo, correu, correu o mais rápido que pôde tentando atravessar a rua.
Mas o sinal estava aberto e houve grande confusão. Carros buzinando e quase batendo uns contra os outros ao tentarem desviar-se dela.
Foi então que Brenda acordou, sua respiração ofegante revelando que tivera um pesadelo.
Levantou-se da cama e olhou-se no espelho. Ela não era um pão, mas uma menina.
Dirigiu-se rapidamente à cozinha onde a mãe já havia posto a mesa.
-Mãe hoje não vou comer pão. Pensando bem, não quero comer pão nunca mais.
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