Asas de borboleta
Era uma vez uma menina que vivia em um orfanato. Ela sempre chorava muito e sentia-se a mais infeliz criatura, sem família ou amigos.
Mas ela tinha um sonho: Queria voar. Todos os dias, passava horas no jardim do orfanato admirando as lindas borboletas coloridas que para lá migravam.
Um dia uma borboleta azul, cuja beleza sempre fora notada pela menina, pousou em sua mão. Imediatamente, ela segurou as asinhas do inseto e pediu:
- Empreste-me tuas asas para que eu vôe para bem longe.
E a borboleta graciosamente respondeu:
- Não posso emprestá-las. Se eu as tirar, jamais poderei voar novamente.
Então a menina entristeceu-se. Não ousaria tomar as asas da borboleta e nem poderia pedi-las novamente, pois sabia o quanto elas significavam para uma criação aérea.
- Não fostes feita para voar.- Consolou-a a borboleta. Mas se quiseres mesmo...Quem sabe?...
Nitidamente a borboleta azul travava um diálogo interno. Contudo, a garota ousou interrompê-lo:
- Se houver qualquer coisa que eu possa fazer para voar, por favor me diga, eu, eu sonho em...
- Eu sei, eu sei, querida- Disse a gentil borboleta. Não se preocupe. Já sei como ajudá-la.
- Amanhã estarei aqui do nascer ao pôr do sol.Não conte a ninguém, mas te emprestarei minhas asas por um dia.
- Mas você disse que não era possível.- Disse a menina.
- Sim, não é possível sem que ...
A borboleta não conseguiu completar a frase.
Mas a menina entendendo disse resoluta:
- Não, não poderei tomar tuas asas porque senão nunca mais voarás.
- Amanhã isso já não importará mais.
- Como assim?
- Amanhã eu receberei asas mais fortes, então não precisarei mais destas.
-Sério? Então eu poderei ficar com estas que você usa agora?
- Ah, isso depende.- Respondeu a linda borboleta.
- O que queres dizer?
- Depois que eu emprestar minhas asas, só poderás ficar com elas por um dia. Se não as devolveres a esta terra....-Disse a borboleta apontando uma asinha ao chão- ...serás borboleta para sempre...
-Está bem.- Disse a menina encerrando o diálogo.
No dia seguinte, menina e borboleta se encontraram novamente. A borboleta tinha mares de água em seus olhos, mas tentando disfarçar apenas sorriu e olhou para o chão enquanto tirava suas asas e entregava-as à amiga. A menina então, colocando-as em suas costas, alçou seu primeiro vôo magistral. Ela estava tão feliz que nem notou a dor da borboleta, que contorcia-se no chão.
Agora a menina -borboleta sentia-se completa: Pôde sentir a brisa do mar por cima deste, tocar as nuvens brancas que percorriam seus sonhos dourados, visitar o arco-iris e deliciar-se com a sensação do vento alto perfumado em seus cabelos. Parecia tudo tão incrível, que quase nem se lembrou da mãe de suas asas. Mas ao se lembrar,,voou o mais rápido que pôde. Queria agradecer e mostrá-la seu amor.Agora a borboleta azul era sua família.
Mas quando a menina a encontrou, pôs-se a chorar. A borboleta já havia trilhado o caminho de toda a terra.Sem asas, em pouco tempo não pôde resistir.
- Não chore, menina linda. Disse uma voz por cima de sua cabeça.
E quando a menina olhou, reconheceu sua amiga borboleta. E desta vez ela estava diferente: O azul de suas asas era muito mais brilhante, seus olhos eram dourados e seu semblante era como um mar calmo e supremo.
-Eu estou feliz! Recebi minhas asas eternas- Prosseguiu a borboleta. E como eu disse, podes ficar com estas.
- Há, eu te amo! Disse a menina abraçando a borboleta. Eu não preciso mais destas asas.- Disse enquanto as devolvia ao chão.- A asa que eu precisava já me destes. Ao receber tuas asas aprendi o que é amar e ser amada. Agora não quero mais lamentar-me, mas amar meus semelhantes. O amor é a asa que mais importa. Agora eu sei. Obrigada, minha amiga!
E, enterrando as asas de borboleta que uma vez foram suas, a menina ergueu-se com seus pés e voou com seu coração, rumo a uma nova vida de alegria e paz.
Karen Rocha
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