O Sonho Perdido
Um homem velejava em seu barquinho pelo oceano. Aquele era mais um dia em muitos anos onde procurava uma Ilha de tesouros. Já havia parado em várias ilhas, mas em nenhuma delas descobrira qualquer riqueza.
Em suas buscas passara por grandes aventuras, como fugir de animais selvagens e sobreviver a correntezas gigantes.
Uma noite, avistou uma figura bem estranha nadando na superfície do mar. Era metade peixe e metade mulher. Demorou alguns minutos até que percebesse que se tratava de uma sereia.
-Sereia?
-Sim. - respondeu a coisa.
Aquilo não era para ser um diálogo. "Foi apenas um alto pensamento. "-refletiu o homem. Deveria ser fruto de sua imaginação. "E não deveria conversar com ela".
Ilusão ou não sentiu que deveria dizer algo quando ela se aproximou sacudindo as barbatanas.
A meio mulher olhou-o fixamente em seus olhos com um ar de súplica. E elevando uma das mãos chamou-o pelo nome.
Então o homem arriscou:
-O que queres ?
-Siga-me e te mostrarei.
O homem pegou seus remos e começou a remar.
Mas ela virou-se e disse:
-Não é assim. Deves nadar comigo por dentro do mar.
-Mas eu não sei...
Antes que terminasse sua frase, a sereia tocou uma de suas mãos. Imediatamente ele sentiu que faltava-lhe completamente o ar.
Então ela disse:
- Já podes respirar dentro da água.
Com o desespero da luta pela vida, o homem mergulhou no mar profundo e sentiu seus pulmões inflando aliviados.
Agora que viu do que a sereia era capaz o homem decidiu segui-la. Havia um misto de curiosidade e agitação dentro dele. O que estava prestes a descobrir? Será que conheceria outros seres iguais aquela que o guiava? Tentou esquivar-se de seus pensamentos porque alguns deles causavam-lhe o medo da morte.
Enquanto nadavam, o caminho pareceu-lhe eterno. Haviam tantas perguntas em sua mente. Desejou afugenta -las,até que percebeu que também poderia falar. Então dirigindo -se a mulher-peixe disse:
-Quem é você e por que estamos nadando?
-Agora fizestes a pergunta correta. Sou uma sereia habitante do mar abissal de Anísio. Vivemos há centenas de anos e...
Mas ela interrompeu a fala expulsando um tubarão que rondava-os com um simples estalar de dedos.
O homem ficou ainda mais impressionado e retomou a palavra:
-Como você consegue fazer isso? Você tem poderes mágicos?
-Na verdade não exatamente.
-Como fez isso então? Insistiu o homem.
-Uma sereia se alimenta de sonhos.
-Ainda não entendi.
-Eu sou a sua sereia protetora. Cada humano tem uma.
Havia agora uma grande exclamação no olhar do humano que perguntou:
- Eu tenho uma... se-reia pro-te-tora?
-Sim. Eu vi seu sonho e estou aqui para realizá-lo.
Dito isto a sereia rodopiou em círculo fazendo vários peixinhos se dispersarem. -Venha-disse ela-estamos quase lá.
O homem agora tinha um sorriso cor de rosa sob olhos prateados de esperança.
Depois de seguirem por mais dez metros marinhos, pararam em frente a uma concha gigante.
-Pronto. Aqui estamos. Abra. -Disse a sereia sorridente.
O homem então retirou a tampa da concha e teve uma grande surpresa. Ela estava completamente vazia.
-Mas esse não é meu sonho. - Disse ele-Aqui não deveria ter muitas jóias? Era com isso que eu estava sonhando.
-Exatamente-respondeu a sereia.
Mas o homem agora estava impaciente e disse:
- Ah não sei porque estou perdendo meu tempo com você. Vou embora.
-Espere, espere-pediu ela com insistência . Mas de nada adiantou.
O homem estava determinado a voltar. Então ele nadou, nadou, até que chegou a superfície. E voltou a ser apenas um homem com pulmões normais.
Retornou a sua antiga casa, onde havia deixado para perseguir suas aventuras oceânicas.
Em sua primeira noite em terra firme dormiu e sonhou. Nele sua sereia o visitou e disse-lhe:
- Ah, meu querido, quantas vezes quis te mostrar? Mas agora é tarde demais. Teu sonho está desfeito!
-Mas como isso aconteceu? Perguntou o homem com um tom de desgosto.
-Aquela concha era o portal para a maior Ilha de tesouros que jamais existiu. Olhe!
Logo, ele avistou uma linda ilha com o tom dourado e iluminado. Havia nela centenas de ouro, diamantes e todos os tipos de pedras preciosas.
Agora os lábios do homem tremiam como uma folha de papel sob o vento forte.
Então a sereia continuou:
-Não posso mais existir porque não há mais sonhos em tua mente.
E desapareceu como o sol perante o crepúsculo.
Assim, o homem acordou e chorou. Agora estava determinado a viver a maior aventura de todas,aquela que seria travada em seu próprio eu: o resgate de seu sonho perdido.